O amor próprio foi minha mais linda história de amor

O amor próprio foi minha mais linda história de amor

Não sei por que resolvi escrever. Aliás, eu nunca sei o porquê escrevo. Só me recordo que entre uma página e outra do livro de física, quando já estava entediada e sem força alguma para aprender, eu desabei. Mas desabei mesmo. Digo, deitei a cabeça sobre os livros e comecei a pensar. Uns pensamentos soltos, sem motivo aparente. Sem sentindo. Sem explicação. E então, abri uma página no Microsoft Word e comecei a me expressar.
Maria é uma menina linda, e estuda na minha classe. Maria é linda mesmo. É alta, magra, tem cabelos longos e negros. Não que esse estereótipo seja necessariamente padrão de beleza, afinal, sabemos que a beleza está presente desde a mais baixinha à menina mais alta da turma. Ser mais magra, mais gorda, ter cabelos longos ou curtos... isso tudo é só acréscimo.
O problema é que Maria nunca se viu assim. Tem complexo de inferioridade (Acho). Maria se penteia de um lado, se maquia do outro, fica inquieta o tempo inteiro. E meu Deus, como isso me incomoda! É um tanto frustrada, reclama das olheiras e do cabelo que deixou a desejar. Já disse mil vezes que esses probleminhas todo mundo tem. Até me queimei todinha dizendo o quanto me envergonho em sair de casa vestindo a primeira calcinha que aparecer, um sapato qualquer e prender o cabelo num rabo de cavalo, assim mesmo, desajeitado. Ou me arrumo mais, ou almoço bem. Qual vou escolher? E claro, eu menti. Não me envergonho, não. Aliás, não tô nem aí. Quem eu vou querer agradar numa turma de uns quarenta alunos aflitos com a prova do Enem? Podendo se divertir com a briga das cobrinhas com a naja mãe, sério mesmo que eles vão se incomodar com a minha vida? E caso se incomodarem, mais um motivo para gente não se importar, não é mesmo, Maria? É muita gente se doendo com quem tem a língua grande demais. Quando faltar amor, a gente tem que se amar ainda mais.
Durmo seis horas por dia, estudo por sete, leio muitos livros e gasto muio tempo na escola (Mais do que gostaria). Como não ter olheiras? Como ser tão arrumadinha, sair de uma capa de revista quando tenho uma bateria de exercícios para resolver? Sou humana, imperfeita. Como me importar tanto com meu cabelo quando preciso priorizar mais que tudo, aquela matéria demoníaca que me prontifiquei em aprender? Como ser Maria, se posso ser eu mesma, Sabrina, cheia de segurança e amor próprio pra dar e vender? Meus dois tios babões que o diga! Quando eles fazem questão de dizer o quanto estou linda naquele dia (mesmo eu sabendo bem que fico horrível jogada em casa, usando óculos e camisa masculina), faço questão de agradecer os elogios e nem faço questão de dizer que foi só bondade deles. Ora, se eu não me amar primeiro, quem é que vai amar?
É sério. Quando eu nasci Deus deve ter me olhado e dito: Você pode até se incomodar com o que os outros vão pensar em uma determinada fase da vida, mas uma hora (ÔH HORINHA ABENÇOADA!), vai ligar o foda-se e mandar tudinho ******. Perdoem-me os palavrões, mas, é isso mesmo. Tem muitas Marias pelo mundo sendo Marias por terem medo de serem elas mesmas. Há muitas Marias se martirizando à toa.
Maria, se você estiver lendo isso aqui, sinta-se especial. Em meio às preocupações, aos exercícios e planilhas de física 1, pensei em você. Eu me lembrei de uma conversinha que tivemos há um tempo, e do quanto seria ótimo ver as meninas se aceitando mais. Celulites, gordura localizada... Relaxa, amiga! Não precisa morrer. Isso todo mundo tem. E o legal é que a gente é assim mesmo: cheias de “imperfeições”. É isso que nos torna perfeitas. Somos lindas, sim. Do nosso jeito. Eu me amo mesmo, e se alguém se incomodar, eu me amo mais ainda. Por um mundo onde as Marias não sejam “vai com as outras”, mas que sejam só elas, Marias. “Cheias da graça”.

Amor próprio em primeiro lugar.

#SomosTodasMarias

Sabrina

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