testeAs melhores séries do ano (até agora)

O ano já está na metade e os lançamentos de livros e séries de TV não param.  Com tantas opções, a revista Entertainment Weekly selecionou atrações que merecem a nossa atenção!

Confira:

1- The Leftovers (HBO)

A aclamada série baseada no livro de Tom Perrotta chegou à última temporada. Lançada em 2014, a história começa com o desaparecimento inexplicável e simultâneo de 2% da população mundial. O que aconteceu? Será que foi um evento sobrenatural ou um acontecimento bíblico? Com essas dúvidas, acompanhamos a vida dos que foram deixados para trás.

A série foi criada por Damon Lindelof, produtor-executivo de Lost.            

 

2- American Gods (Amazon Prime)

A série só tem uma temporada disponível na Amazon Prime (serviço de streaming da Amazon), mas já recebeu excelentes críticas de diversos veículos do mundo e surpreendeu os fãs logo nos primeiros episódios. Inspirada em Deuses americanos, livro de Neil Gaiman, a atração aborda temas atuais como imigração, preconceito e a importância de descobrir quem somos. A Entertainment Weekly acredita que a série tem cenas essenciais e é a obra-prima da TV neste ano!

 

3- One day at a Time (Netflix)

Sitcoms também entraram na lista da revista. One day at a Time conta a história e as confusões de uma família cubano-americana. A atração é um remake de um seriado da década de 1970 produzido pela Netflix.

A segunda temporada já está confirmada!

 

4- Big Little Lies (HBO)

Com uma playlist incrível, cenas dignas de cinema e um elenco estrelado, a série inspirada em Pequenas grandes mentiras, romance de Liane Moriarty, ganhou notoriedade ao trazer discussões importantes sobre temas como violência doméstica, feminismo e bullying.

 

Com muito mistério e drama, a atração de sete episódios conta a história de três mulheres que têm uma vida aparentemente comum em uma pequena cidade da Austrália, onde acontece uma misteriosa tragédia.

 

5- Master of None (Netflix)

Criada, produzida e protagonizada pelo humorista norte-americano Aziz Ansari, a série é um reflexo da vida de jovens entre 25 e 35 anos que encaram os dilemas da vida adulta. A busca pelo emprego ideal, pelos amores perdidos, o medo de envelhecer e pautas importantes, como preconceito e racismo, são os principais temas da atração.

A segunda temporada, lançada em maio, foi um presente para os fãs. Apesar de contar com novos personagens e cidades, Aziz conseguiu criar histórias encantadoras que poderiam acontecer em qualquer lugar do mundo!

 

6-  I Love Dick (Amazon Prime)

A série original da Amazon Prime acompanha um casal, interpretado por Kathryn Hahn e Griffin Dunne, enquanto suas ideias sobre amor e monogamia são desafiadas por um enigmático escritor.

 

7- Dear White People (Netflix)

Ambientada em uma universidade com alunos predominantemente brancos, a série, inspirada em experiências do seu criador, Justin Simien, conseguiu destaque ao apresentar o cotidiano de um grupo de estudantes negros. Dear White People mostra como há muito racismo na omissão e no silêncio em ambientes onde há suposta diversidade racial.

 

8- Legion (FX) 

Criada por Noah Hawley, roteirista de Fargo e autor de Antes da queda, a série deixa claro desde o primeiro episódio que não é apenas mais uma atração sobre super-heróis. Baseada no personagem das HQs dos X-Men, Legion acompanha a vida do jovem David Haller, diagnosticado com problemas mentais desde a adolescência. David passou os últimos cinco anos em um hospital e vê a sua vida mudar depois de um estranho encontro com um dos pacientes.

O design, o elementos típicos da Nouvelle Vague, as cenas de ação e a trilha sonora são os pontos fortes da série!

testeLançamentos de julho

Piano vermelho, de Josh Malerman: Ex-ícones da cena musical de Detroit, os Danes estão mergulhados no ostracismo. Sem emplacar nenhum novo hit, eles trabalham trancados em estúdio produzindo outras bandas, enchendo a cara e se dedicando com reverência à criação — ou, no caso, à ausência dela. Uma rotina interrompida pela visita de um funcionário misterioso do governo dos Estados Unidos, com um convite mais misterioso ainda: uma viagem a um deserto na África para investigar a origem de um som desconhecido que carrega em suas ondas um enorme poder de destruição.

Breve história de sete assassinatos, de Marlon James: Livro vencedor do Man Booker Prize de 2015, cujo autor é destaque da Festa Literária de Paraty, em julho. Em 3 de dezembro de 1976, às vésperas das eleições na Jamaica e dois dias antes de Bob Marley realizar o show Smile Jamaica para aliviar as tensões políticas em Kingston, sete homens não identificados invadiram a casa do cantor com metralhadoras em punho. O violento ataque feriu Marley, a esposa e o empresário, entre várias outras pessoas. Poucas informações oficiais foram divulgadas sobre os atiradores. Uma obra brilhante e arrebatadora que explora um período de grande instabilidade na história da Jamaica.

Em busca de abrigo, de Jojo Moyes: Tocante romance de estreia de Jojo Moyes, Em busca de abrigo é uma trama sobre três gerações de mulheres em uma família que não se conhece de verdade, tão cheia de surpresas quanto a vida real. Uma prévia do talento de Jojo Moyes para escrever sobre relacionamentos, família e, sobretudo, amor.

As upstarts, de Brad Stone: O livro conta a história dos dois grandes expoentes da chamada economia do compartilhamento: a Uber e o Airbnb. Por meio de sua análise bem embasada e entrevistas com os fundadores das duas empresas, vemos como o enorme ímpeto e autoconfiança de um empreendedor pode mudar o mundo e gerar fortunas, mas também turvar seu discernimento e ameaçar tudo o que foi conquistado.

O árabe do futuro 3: Uma juventude no Oriente Médio (1985-1987), de Riad Sattouf: terceiro volume da premiada série O árabe do futuro, que narra a infância nada comum do quadrinista Riad Sattouf, passada entre a Líbia, a Bretanha e a Síria. No mais novo capítulo da história do adorável menino de cabeleira loura e cacheada e de sua família itinerante, vemos um Riad no alto de seus sete anos, tentando a seu modo se adequar aos costumes e às dinâmicas do vilarejo em que mora na Síria e se entrosar com seus primos e amigos da escola.

Amor & gelato, de Jenna Evans Welch: Um verão na Itália, uma antiga história de amor e um segredo de família. Depois da morte da mãe, Lina tem que realizar um último pedido: ir até a Itália para conhecer o seu pai. Do dia para a noite, ela se vê na encantadora paisagem da Toscana, passeando pelos famosos pontos turísticos que no passado marcaram a juventude da mãe. Guiada por um antigo diário, Lina agora vai construir a própria história, descobrir o amor e aprender a lidar com o luto.

Hotel Valhala: Guia dos mundos nórdicos, de Rick Riordan: Muitos já ouviram falar do corajoso exército de Odin e dos grandiosos guerreiros vikings que vivem em Valhala, treinando dia e noite para lutar no Ragnarök… Porém, poucos sabem que muitos desses guerreiros chegam ao Hotel Valhala sem a mínima ideia do que estão fazendo ali. Para resolver esse problema, o livro Hotel Valhala: Guia dos mundos nórdicos, um companion book da série Magnus Chase e os deuses de Asgard, oferece todo o conhecimento de que um novo hóspede precisa para sobreviver durante a hospedagem eterna na pós-vida viking.

Como as crianças aprendem, de Paul Tough: agora relançado com novo título, foi publicado no Brasil originalmente em 2014 como Uma questão de caráter. O livro permaneceu por mais de um ano na lista de mais vendidos do The New York Times e foi traduzido para 27 idiomas.

Como ajudar as crianças a aprenderem, de Paul Tough: Um guia prático que oferece a pais, responsáveis, professores e legisladores ferramentas para ampliar seu entendimento das necessidades de investimento e inovação quando se trata de educar crianças em circunstâncias adversas.

testeRomantizamos o suicídio e estigmatizamos a depressão

Por João Carvalho*

A depressão é um inimigo soturno e silencioso; ela ceifa mais vidas entre jovens que a violência e as doenças puramente físicas combinadas e, ainda assim, quase não falamos dela. Já o suicídio, vertente mais explícita e desencadeamento último da depressão, se tornou um lugar comum na cultura pop.  Por quê?

As razões são as mais diversas, mas, infelizmente, uma das principais está na nossa relação com ambos. Enquanto romantizamos o suicídio, estigmatizamos a própria depressão. Ao ostracizar a causa e relativizar o efeito mantemos como tabu uma doença que atinge desde as celebridades de Hollywood ao quitandeiro da esquina.

Ninguém tem vergonha de admitir que está gripado, ninguém se desculpa por ter sinusite, ninguém tem medo de perder os amigos, a família ou prejudicar a vida amorosa por causa de uma perna quebrada. Da mesma forma, todos nós nos solidarizamos com aqueles que lutam contra um tumor ou uma doença grave. No entanto, quando se trata de uma doença mental, a coisa muda de figura.

Somos bombardeados constantemente com ideais e metas inatingíveis pela sociedade: o corpo perfeito, a vida perfeita, as redes sociais perfeitas, relacionamentos extraordinários, os produtos certos, as séries da moda… Tudo isso pressupõe que nós mesmos deveríamos ser como todos esses produtos: perfeitos.

Contudo, a depressão é a síntese da imperfeição humana; ela é o que há de mais primordial e imperfeito em nós mesmos. É a manifestação mental e física de nossos medos, inseguranças e frustrações.

O suicídio, exatamente por sua raridade, exatamente por sua excepcionalidade, acaba por representar a “forma perfeita” para abordar o inabordável. Ninguém quer saber que você às vezes chora ao escolher uma meia. Ninguém quer saber da amargura que sente ao pensar no próprio futuro. No fundo, no fundo, todos nós nos olhamos no espelho e vemos uma fraude. Porém, quando alguém abandona a única coisa que de fato se possui, a vida, em um ato desesperado, mas, erroneamente percebido como corajoso, o elefante branco na sala passa a enfim ser discutido.

O suicídio é visível e, por sê-lo, vende. Vende séries na Netflix hoje em dia como vendeu o romance juvenil de Shakespeare três séculos atrás. Já a depressão continua como uma sombra, pairando sobre nós sem que as luzes da mídia a iluminem. Talvez, se jogássemos luzes o bastante sobre ela, perceberíamos que este fantasma pode ser menor e menos assustador do que parece.

É exatamente jogar luz sobre o fantasma da depressão que Matt Haig faz em seu magistral Razões para continuar vivo. Ele nos conta toda a sua trajetória desde a crise suicida até as planuras da convivência com a depressão e a ansiedade. Mais do que bem escrito, mais do que divertido, o livro de Matt é necessário. Traz em cada uma das suas páginas a atitude mais corajosa que um ser humano pode ter: despir o próprio ego e expor as fraquezas para que outros possam triunfar — e para que suas lições alcancem o maior número de pessoas.

 

Ao ler o livro de Matt, senti como se conversasse com um amigo de longa data, como se cada percalço, cada dificuldade e cada vitória de Matt também fossem minhas. O livro é leve como precisa ser para alcançar quem grita por ajuda. E forte e profundo o suficiente para lidar com um assunto tão denso quanto é a depressão e a ansiedade.

Assim como Matt, já estive à beira de me matar. Assim como Matt, consegui sair do abismo e perceber que existe vida, beleza, amor e alegria aqui fora. Pode parecer pouco, pode parecer distante, mas saiba que se você, assim como nós, já sentiu as forças se esvaindo e a dor tornando o mundo cinza, a leitura de um relato tão sincero e tão bonito pode ser um dos passos capazes de ajudá-lo a vencer essa que é a mais silenciosa e perigosa das doenças. Talvez a força da depressão esteja em viver nas sombras e nos convencer de que ninguém mais passou por aquilo que estamos passando. Razões para continuar vivo é, sobretudo, um testemunho de que você não está sozinho.

 

* João Carvalho é podcaster pelo Decrépitos, Anticast e Revolushow. Formado em História e Letras Clássicas e mestre em História Social, trabalha no Ministério das Relações Exteriores desde 2009. João é pai de um lindo menino chamado Erik e diagnosticado com distimia e TOC desde 2007.

testeSorteio Lançamentos Facebook 30.06 [Encerrado]

Vamos sortear 3 exemplares dos nossos lançamentos mais recentes! Para participar, poste esta imagem em PUBLICAMENTE seu Facebook e preencha corretamente o formulário abaixo.

Informamos que pessoas que preencherem o formulário mais de uma vez serão desclassificadas. O sorteio será realizado na segunda-feira, 03 de julho. Boa sorte!

Confira o resultado abaixo: 

testeSorteio Lançamentos Instagram 30.06 [Encerrado]

 

 

 

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testeDo Hippopotamus ao museu

Zózimo Barrozo do Amaral (1941-1997) era um homem do mundo, onze entradas em Paris carimbadas no passaporte apenas em 1989, e sempre com visitas obrigatórias a museus tradicionais e galerias contemporâneas.

Durante vinte anos, entre 1965 e 1985, ele foi casado com Márcia Barrozo, artista plástica conceituada pela crítica, marchand e dona de galeria de arte contemporânea. Enfim, Zózimo era um homem cercado de cultura e gostava disso — mas seu sorriso sobre todos os valores consagrados era incorrigível.

Cético radical, debochava de qualquer pose e grandiloquência. Ficaria com certeza muito surpreso ao saber que sua vida e obra serão tema de uma exposição no fim de 2018 no Museu Histórico Nacional, no Rio de Janeiro. Aquele mesmo, o da Praça XV, com uma monumental coleção de carruagens do Segundo Império, canhões da Guerra do Paraguai e toda sorte de documentação sobre esses nossos 517 anos de fuzarca. Usando o bordão que dava a senha para a gargalhada, ele próprio diria: “E o Zózimo, hein? Quem diria. Do Jornal do Brasil para a História do Brasil.”

A exposição levará para os salões do MHN a história do jornalismo no Rio, principalmente a evolução do colunismo social, nicho que Zózimo consolidou a partir de 1969, no Jornal do Brasil, e que, graças a seu estilo refinado, tornou-se um dos pontos mais importantes de leitura na imprensa nacional. No início, o jornalista trabalhava numa redação basicamente masculina — máquinas de escrever, telefones tocando e vozes de repórteres precisando ser aumentadas para sobressair na algaravia. Uma barulheira de esquina de Copacabana, com direito a fumaceira liberada pelos cigarros. Depois Zózimo pegou a redação digitalizada, mais silenciosa, com cigarro proibido e a presença feminina predominando.

Através das notinhas da coluna de Zózimo é possível contar, com bom humor, a história do Rio de Janeiro na última metade do século XX — e este será o foco da exposição. Zózimo era um carioca sem preconceitos. Educado e charmoso dentro de um black tie nos salões de Carmen Mayrink Veiga, transformava-se num rubro-negro fanático no Maracanã — a ponto de seu advogado ter perdido a conta do número de vezes em que precisou ir à delegacia para tirá-lo das consequências de alguma briga com torcedor rival.

Zózimo era um “rato” do Rio. Saía da boemia intelectual do Antonio’s, no Leblon, direto para os inferninhos de sexo ao vivo na rua Duvivier, em Copacabana. Zózimo divertia-se à grande onde quer que fosse. Frequentava o Posto 9, a pista do Hippopotamus. Quem diria, hein? Acabou no museu.

testeMichael Lewis, a não ficção que une Wall Street a Hollywood

Por Rennan Setti*

Ao longo de três décadas e 13 obras marcantes, Michael Lewis conquistou status de autor incontornável na não ficção americana. Isso graças a um talento raro para encontrar personagens, dramas e suspenses dignos de filmes em assuntos que, pela complexidade invulgar, a maioria dos autores desprezaria como complicados demais para contar com graça. O exemplo mais recente é O projeto desfazer, que Lewis acaba de lançar no Brasil. A obra reconstitui com estilo ao mesmo tempo rigoroso e comovente a colaboração entre os psicólogos israelenses Amos Tversky e Danny Kahneman, cujas ideias ganharam fama com o sucesso mundial de Rápido e devagar: duas formas de pensar

Os livros de Lewis têm o fôlego de roteiros instantâneos, e Hollywood já sabe disso. O primeiro filme veio em 2009, baseado em The Blind Side. Um sonho possível conta a história de um garoto negro, saído de um lar destruído que, graças ao apoio de uma família desconhecida, ascendeu ao apogeu do futebol americano. O filme proporcionou a Sandra Bullock um Oscar e a Lewis, a reputação de pé-quente nas telas. 

Mas, a despeito da narrativa cativante, Um sonho possível não era um clássico Lewis. O homem que mudou o jogo, de 2011, era. Inspirado em Moneyball e estrelado por Brad Pitt e Jonah Hill, o filme tinha os ingredientes mais preciosos ao autor: um assunto curioso e complicado e protagonistas que vão de encontro ao consenso. Lewis mostra como o time Oakland A’s formou um time matador de beisebol abdicando do instinto, que sempre dominou o esporte, em favor de um método heterodoxo: análise de dados. O filme foi indicado a seis Oscars.           

 Em 2015 viria a terceira transposição para o cinema da obra de Lewis. A grande aposta (baseado em A jogada do século) é uma espécie de cautionary tale das finanças, um testemunho sobre os malefícios de uma sociedade construída em torno da ganância, que recupera a trajetória de quatro sujeitos que ousaram se posicionar contra a euforia que transpirava no mercado às vésperas da crise hipotecária que provocaria o colapso de 2008. 

Aqui, Lewis está em seu terreno predileto: Wall Street. Nos anos 1980, egresso da prestigiosa London School of Economics (LSE), Lewis foi trabalhar como trader de títulos no mítico banco de investimentos Salomon Brothers. Mais do que dinheiro, a experiência proporcionou a ele um ponto privilegiado de observação dentro de uma indústria que mexia com o imaginário popular àquela época, como prova o sucesso de Wall Street, do cineasta Oliver Stone, e Fogueira das vaidades, de Tom Wolfe, ídolo máximo de Lewis. A partir do dia a dia no Salomon Brothers, o autor publicaria em 1989 O jogo da mentira, referência para quem quer mergulhar naquela exótica cultura de risco, cobiça e fortuna.

 Lewis retornaria ao universo financeiro em diversas ocasiões. Além de A jogada do século, outros títulos de destaque nessa seara são Bumerangue, uma autópsia das bolhas que o dinheiro barato alimentou pelo mundo nos anos 2000, e Panic, que reconstitui recentes episódios de pânico financeiro. Sua obra imediatamente anterior a Projeto desfazer foi Flash Boys: revolta em Wall Street. O tema principal é a ascensão de técnicas que permitem realizar milhares de transações na Bolsa na velocidade do milissegundo, a chamada alta frequência (HFT, na sigla em inglês). Poucos autores seriam capazes de transformar o HFT em algo palpitante. Mas Lewis conseguiu encontrar nesse terreno árido uma historia de contornos heroicos, onde um outsider se insurge contra o establishment de Wall Street e denuncia as trapaças por trás do novo modelo. 

 

 Um dos segredos para a eficácia do que Lewis escreve é o respeito a duas regras fundamentais do jornalismo, profissão que ele adotaria após a experiência no Salomon Brothers: clareza e, acima de tudo, gente.   

 “Como explicar CDS e CDO (dois complexos instrumentos financeiros) para minha mãe? Ela sempre foi meu parâmero: se minha mãe não pode entender o que eu estou dizendo, não tenho porque dizê-lo”, escreveu o autor na Vanity Fair, onde colabora com frequência. “Mas nunca é suficiente explicar coisas complicadas para o leitor. Primeiro, o leitor precisa querer saber sobre aquilo. Meu trabalho (em A jogada do século) era fazer com que ele quisesse muito saber sobre CDS e CDO. Os personagens maravilhosos que previram o colapso do sistema financeiro se tornaram a solução para esses dois problemas.”

*Rennan Setti é jornalista

testeProcura-se uma história que saiba que eu existo

Por Helena Mayrink*

Nomi e Amanita, personagens da série Sense8

Costumo falar que minha mãe me criou à base de filmes românticos. Desde criança, esperava um conto de fadas, um encontro de almas, uma declaração nível Um lugar chamado Notting Hill pra chamar de minha. Ah, e um príncipe encantado, claro, porque ele era essencial para o meu plano de final feliz.

O grande problema era que uma, duas, três, dez vezes, a mini-eu se viu seguindo um mantra: “Ele só não é o garoto certo, está tudo bem.” Quanto mais eu crescia, porém, mais percebia que meu sentimento ao pensar em príncipes encantados não era o de borboletas no estômago, mas uma já constante gastrite nervosa. Não era bem a coisa mais apaixonante de todas, desconfio.

Por anos, silenciei um grito que ecoava na garganta e que eu não tinha coragem de jogar para o universo. Aos 16, resolvi encarar uma possibilidade avassaladora: e se eu estivesse procurando no lugar errado? Toda a ampla filmografia de comédias românticas que mamãe me apresentou não me prepararam para isso, mas e se na verdade eu estivesse evitando aceitar que gostava mesmo de… princesas? Meu mundinho ditava uma base bem específica, a mocinha com o mocinho, e uma realidade além dessa parecia impensável. Até eu perceber que não era. O que eu via no cinema — ou melhor, o que eu não via — trazia à tona a verdadeira complicação: a falta de representatividade.

Quando soube que a Intrínseca publicaria Apenas uma garota, a primeira coisa que pensei foi “finalmente”. Afinal, Amanda Hardy não é só uma menina que se sentia diferente, mas nossa primeira protagonista trans. Depois de sofrer bullying apenas por tentar ser sincera consigo mesma, ela ganha uma chance de recomeçar — a hora de abraçar sua identidade e ser amada como sempre desejou. Essa era uma sinopse que me animava porque eu sabia que precisávamos dela, e, por meses, tudo em que eu conseguia pensar quando olhava os próximos lançamentos era Amanda. Então chegou junho. Junho, o mês em que o Brasil vai conhecer o romance escrito por Meredith Russo — entre tantas coisas, ativista, autora e mulher trans. Junho, o mês do orgulho LGBT.

Ainda que de uma forma bem diferente, reconheci muitos dos sentimentos da Amanda. A inadequação, a dificuldade de contar para os outros, o medo das reações, a insistência para ser respeitada como se é. Como a Amanda, me afoguei nas expectativas das outras pessoas até entender que quem eu sou é mais importante do que quem gostariam que eu fosse. E aí está parte da magia da literatura: jovens tendo a oportunidade de se reconhecer numa história, seja lá como eles são. Eu nunca saberia dizer como é ser trans, mas o que aquela obra falava para mim, muito mais do que questões de gênero, era de identidade e aceitação, sobre as relações que construímos e as dificuldades do mundo em que vivemos.

Eu lembro da primeira vez que falei “eu te amo” para uma menina. Lembro do nosso primeiro beijo e de vários outros beijos que vieram depois. Eu também lembro até hoje da primeira vez que assisti a um filme com um casal de mulheres — eu as vi, eu me vi. Se tem uma coisa que une a comunidade LGBT é a luta para sermos enxergados. E é isso que Apenas uma garota faz. Essas são as histórias que nós precisávamos que existissem, porque não há nada de errado com a nossa existência. E eu me orgulho dela todos os dias.

>> Leia um trecho de Apenas uma garota

 

Helena Mayrink é estagiária de comunicação da Intrínseca e uma quase-jornalista de formação. Ela é viciada em séries e literatura jovem, com um fraco ainda maior por histórias com personagens LGBT. Seu sonho era viver em um romance musical, mas às vezes acha que trabalhar com livros é quase isso.

testeLiteratura, reggae e o tiro que quase matou Bob Marley

Por Thadeu C. Santos*

Breve história de sete assassinatos é o primeiro livro do escritor jamaicano Marlon James a ser publicado no Brasil. Na obra, James construiu uma narrativa tão impressionante e original que recebeu o Man Booker Prize, o principal prêmio da literatura britânica e um dos mais reconhecidos da literatura internacional. O feito é mesmo prodigioso: foi a primeira vez que um escritor jamaicano levou a premiação.

Oferecendo espaço para que os personagens se manifestem em primeira pessoa a cada capítulo, o autor retrata os antecedentes e as consequências de um importante acontecimento da história recente da Jamaica ao recriar um fato real: o atentado sofrido por Bob Marley, maior estrela do reggae, dois dias antes do show Smile Jamaica, realizado em 5 de dezembro de 1976 no National Heroes Park, em Kingston, junto com sua banda The Wailers.

Era ano eleitoral e a apresentação continha uma mensagem política: Marley, que àquela altura já era considerado uma figura mítica pelos jamaicanos, subiria ao palco numa das principais praças da capital para clamar pelo fim da matança que envolvia jovens militantes dos dois principais partidos políticos do país. Marley não deu ouvidos aos que diziam que ele poderia ser morto no palco e cantou para a multidão. Em determinado momento, mostrou a ferida deixada em seu peito pela bala de raspão e o curativo no braço esquerdo, expondo ao público onde fora perfurado.

No ano seguinte, Bob Marley & The Wailers gravariam Exodus, e a música nunca mais seria a mesma. O reggae se tornou a cada novo disco um gênero musical mais politizado, que refletia a visão de mundo dos rastafári e seguia a trilha iniciada pelo rocksteady de unir música, religiosidade e ativismo por justiça social. No entanto, nem todos os jamaicanos eram rastas e nem todos gostavam de reggae. Nos anos 1970 e 1980, em meio à resistência pacífica encampada por músicos ativistas, a realidade de Kingston seguia dura, imersa na pobreza e extremamente violenta. A política era um fator de instabilidade que contribuía para que gangues de traficantes de drogas tomassem conta das favelas de Kingston e… de áreas em Nova York onde gangues de jamaicanos disputavam entre si importantes pontos da cidade mais famosa do mundo.

Esse é o cenário de conflitos políticos e sociais que os personagens de Marlon James expõem em seus relatos, muitas vezes se valendo de hits da época. Alguns deles seguem na playlist abaixo, com algumas das gravações citadas no romance. São músicas que trazem na essência o que aqueles anos significaram. Além de Bob Marley, também marcam presença Delroy Wilson, Big Youth, Sista Nancy, Might Diamonds, entre outros, compondo um panorama de peso da fase seminal do reggae.

>> Breve história de sete assassinatos chega às livrarias a partir de 6 de julho e já está em pré-venda.
>> Marlon James participa da Festa Literária de Paraty 2017

 

Thadeu C. Santos, 30 anos, é editor freelance. Esteve em Kingston, capital da Jamaica, em 2013, durante uma viagem de 8 dias, ou seja, pouco tempo para entender tudo o que estava acontecendo por lá, mas o suficiente para desconfiar que algumas coisas eram muito similares à realidade do Rio de Janeiro, onde vive.

testeVeja as fotos do bate-papo com Matheus Leitão, Míriam Leitão e Vladimir Netto em São Paulo

 

Confira as fotos do bate-papo e sessão de autógrafos com Mírian Leitão, autora de A verdade é teimosa e História do futuro, Matheus Leitão, autor de Em nome dos pais e Vladimir Netto, autor de “Lava Jato”. O evento aconteceu dia 22 de junho na Saraiva do Ibirapuera, em São Paulo. 

 

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