Por Pedro Martins*
Publicado em 2010 pela norte-americana Lauren Oliver, Antes que eu vá retorna aos holofotes. Seja nas páginas ou nas telas, sua grande mensagem, como em muitas outras histórias, é atemporal: a beleza de ser gentil.
“Você não pode sentar com a gente!”
À primeira vista, a jovem Samantha Kingston, de 17 anos, vive a vida dos sonhos de toda garota: é popular, tem as melhores amigas que poderia pedir e, de quebra, namora o rapaz mais desejado do colégio.
De fato, são muitas as semelhanças com Meninas Malvadas, clássico dos anos 2000 estrelado por Lindsay Lohan. Sam e suas amigas não chegam a estabelecer que às quartas-feiras usam rosa — talvez porque esse estilo tenha saído de moda —, e diferente do Burn Book de Regina George, as meninas malvadas de Lauren Oliver ofendem os colegas em alto e bom som, sem a mínima preocupação de como suas palavras podem afetar a vida alheia — às vezes até de forma letal.
Diferente de Meninas Malvadas, porém, Lauren Oliver preferiu o dramático ao cômico na tentativa de conscientizar seus leitores. Voltando de uma festa, Sam e suas amigas capotam o carro, e ela morre. Mas o acidente não encerra sua vida. Pelo contrário: faz ela ficar presa em um looping temporal agoniante.
Bem-vinda à sua fita, Samantha Kingston
Ainda que não seja o foco, Antes que eu vá também fala sobre bullying e suicídio, temas que instantaneamente nos remetem a 13 Reasons Why, série mais popular da Netflix atualmente.
Estamos vivendo em uma realidade onde jovens preferem passar o fim de semana em casa, maratonando uma série sobre suicídio, ao invés de sair para se encontrar e nutrir suas relações interpessoais. É sintomático, e talvez haja uma explicação: essas relações estão se tornando tóxicas.
Revivendo o último dia de sua vida de novo e de novo, Sam começa a perceber como seu comportamento e o de suas amigas estava sendo prejudicial para aqueles que conviviam ao seu redor. Da irmã caçula à aluna que mais sofria bullying do colégio, ela tem a chance de rever suas atitudes.
Antes que eu vá, Meninas Malvadas, 13 Reasons Why ou até mesmo Carrie, a Estranha, de Stephen King. Não importa: do entretenimento, também vem capacidade de conscientizar.
Das páginas para as telas
Sete anos depois da publicação nos Estados Unidos, Antes que eu vá chegou aos cinemas. Nas telas, a cenografia de Michael Fimognari é certamente um dos maiores acertos do filme de Ry Russo-Young: com planos de câmera melancólicos e uma paleta de cores azul-metálica, a fotografia dá o tom estético ideal para a trama. Já do roteiro, não se pode dizer o mesmo: os cortes e as adaptações são compreensíveis e até benéficos, mas os diálogos expositivos e as inconsistências rítmicas atrapalham no desenvolvimento da narrativa. Felizmente, as entrelinhas permanecem intactas e o principal propósito da história é alcançado.
Nos cinemas ou nas livrarias, em uma edição especial com contos inéditos, Antes que eu vá é um aliado sutil e inspirador na busca por sermos pessoas melhores. Sam precisou que chegasse seu último dia de vida para descobrir o poder da empatia, do altruísmo e da gentileza. A nós, espero que não aconteça o mesmo.
Pedro Martins é viciado em livros, filmes e séries e descobriu a magia por meio dos escritos de J.K. Rowling aos oito anos. Essa paixão o tornou webmaster do Potterish.com e o possibilitou escrever sobre literatura para diversos portais, do britânico The Guardian ao brasileiro Omelete. Agora, ele tem mais um lugar onde se aventurar: o blog da Intrínseca.
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