teste4 regras simples para viver melhor

Por Pedro Staite e Rebeca Bolite* 

A vida não é um suquinho de uva com três cubos de gelo à nossa espera. Talvez seja para alguns, e estamos livres para odiar essas pessoas. Para a maioria, no entanto, a vida é um gigantesco novelo de lã que precisamos desembaraçar (sem saber muito bem por quê), extremamente complexo, e cujos momentos de tranquilidade são tão raros que nos tornamos seres humanos desacostumados ao ócio.

Em momentos de paz, você pensa “O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?”: é o seu cérebro acostumado à correria e com saudades do Só Pra Contrariar.

É claro que, independentemente da época, a vida nunca foi fácil. Mas dá a impressão de que conseguimos complicar ainda mais, não dá? Para nossa sorte, os pesquisadores Donald Sull e Kathleen M. Eisenhardt decidiram dedicar a carreira a um objetivo bem-vindo: como simplificar a vida.

Após mais de uma década de testes e estudos, a dupla conseguiu estabelecer seis categorias de regras para simplificar diversos pontos da nossa rotina, lançando mão de uma quantidade inacreditável de exemplos interessantes. Dessa odisseia pelo comportamento humano, nasceu o livro Regras simples.

E quais são essas regras? Observe enquanto eu passo os slides sobre quatro.

 

Regras de limite, ou “quanto menos opções, melhor”

No livro, os pesquisadores nos ensinam a definir uma ou poucas opções na hora de tomar uma decisão. Um dos exemplos mais curiosos é a maneira como, segundo estudos, os ladrões “elegem” a casa que querem roubar. Você pode até pensar que o ladrão verifica se a casa tem câmeras de segurança ou cães de guarda. No fim das contas, ele só não quer que tenha uma pessoa ali dentro. Ele quer roubar uma casa, não fazer uma visita. De acordo com uma pesquisa canadense feita com presidiários, o fator mais importante para os ladrões era que não houvesse um carro na garagem. Ou seja, até ladrões estabelecem regras de limite para definir seus alvos.

E minha avó passou a vida confundindo a cabeça dos ladrões, ao deixar a luz da sala acesa quando saía de casa (na falta de um carro, ela se defendeu como pôde).

 

Regras de tempo, ou “a tranquilidade tem hora marcada”

Essas regras funcionam em ocasiões em que hábito e periodicidade são fundamentais. Pensemos na Pixar, estúdio de animação digital. O primeiro longa-metragem da empresa foi Toy Story. O filme vencedor do Oscar foi um imenso sucesso, mas, infelizmente, o estúdio precisava de cerca de quatro anos para criar um produto desses, capaz de atender o elevado padrão de qualidade Pixar.

No entanto, lançar um longa a cada quatro anos não é exatamente um grande negócio. Parte da solução da empresa foi estabelecer regras de tempo:

Uma definia um lançamento anual para que o negócio fosse viável.

Uma segunda era fazer estreias no começo da temporada de festas de fim de ano — um dos dois picos anuais de famílias indo ao cinema, quando as receitas de bilheteria e as vendas de produtos relacionados disparam.

Definir essas regras foi fundamental para que a Pixar se estabelecesse como um dos grandes estúdios de animação. Gostou de Divertida Mente? Agradeça às regras simples: se não fossem elas, a Pixar continuaria a produzir só de quatro em quatro anos e esse filme, o 15º da Pixar, só estrearia em 2051.

 

Regras de priorização, ou “o empurrãozinho para descer pelo gargalo”

Esse tipo de regra é aplicado em geral quando não há recursos suficientes e é necessário definir quem ou o que vai receber a atenção, o dinheiro ou o tempo em jogo. Como no caso do seu tempo livre e da reforma da sua casa.

Os autores ensinam uma forma simples para você compreender o que é mais importante: o cinema, a visita aos avós, comprar o presente do seu chefe ou colocar o sono em dia (afinal, não dá para visitar os avós, tirar um cochilo, roubar a prataria deles e dá-la de presente para o seu chefe no cinema de uma vez só).  

Da mesma maneira, no caso da reforma, quando há pouco dinheiro, aprendemos a decidir entre os armários novos, a troca do piso da cozinha ou pintar as paredes. Não tenho dúvidas de que não fui o único a preferir não fazer nada diante dessas situações de escassez de recursos.

 

Regras de interrupção, ou “mais vale uma omelete na frigideira do que um pássaro na mão (ou dois voando)”

Grilos-do-campo fêmeas vivem um dilema romântico. Elas vivem pouco, mas precisam escolher um parceiro e procriar para passar seus genes. Ou seja, elas têm que definir em um tempo curto quando parar de procurar o par perfeito e sossegar. Incrivelmente, esses insetos definiram regras simples de interrupção da busca baseadas nas frequências dos sonzinhos que os companheiros emitem. Elas iniciam a busca por um grilo Pavarotti, mas, à medida que o tempo passa, um grilo Rogério Flausino começa a ficar de bom tamanho. A vida é curta.

E esse é um problema muito comum na vida dos seres humanos, em diversas áreas: quando parar de procurar e escolher? Capitalistas de risco precisam de regras para definir quando parar de investir em determinada ação ou negócio, e atletas profissionais precisam decidir quando interromper a carreira, por exemplo. Nesse capítulo, Eisenhardt e Sull nos ensinam a definir regras simples para saber quando parar de tentar.

A esta altura, você já deve ter uma boa ideia de como são as regras simples e como elas funcionam. No livro, os autores ainda ajudam a definir que tipo de regra se aplica ao seu caso e como criar suas próprias regras.

>> Leia um trecho de Regras simples

 

Pedro Staite e Rebeca Bolite escreveram este texto em parceria. O Pedro adorou Divertida Mente, a Rebeca só achou bonzinho. O Pedro não respeitou a opinião da Rebeca, mas a Rebeca não perguntou nada para o Pedro.

teste6 razões para ler Extraordinário

Em um universo com milhares de livros, decidir a próxima história a ser explorada é sempre um grande desafio. Isso vale para leitores apaixonados com dezenas de títulos na fila, para pessoas que querem voltar à rotina literária, para estudantes que ganharam um tempo livre nas férias escolares e até mesmo para crianças buscando sua primeira leitura. Independentemente do motivo, criamos uma lista para acabar com as dúvidas e mostrar seis razões pelas quais Extraordinário deveria ser a sua escolha.

 

1- Respeito às diferenças é não só a mensagem do livro, mas também sua inspiração.

R. J. Palacio contou em entrevistas que ver a reação de seus filhos ao encontrar uma menina com deformidade facial a inspirou a escrever sobre o tema. Para ela, era muito importante que as pessoas parassem de reagir a esse tipo de situação de uma maneira que ferisse os sentimentos do outro.

 

2 – O livro é repleto de frases motivadoras e reflexivas.

Extraordinário narra a história do menino Auggie de uma maneira que é ao mesmo tempo leve e intensa. Durante a leitura, você encontrará mensagens fortes que mudarão seu jeito de enxergar as relações entre as pessoas.

 

3 – É uma chance incrível de conhecer uma história por diversos pontos de vista.

O livro é dividido em capítulos narrados por diferentes personagens. Dessa maneira, é possível conhecer e entender a história principal de pontos de vista diferentes: o do próprio Auggie, de seus familiares, dos amigos da escola e de outras figuras que cruzam seu caminho ao longo da trama.

(Fonte)

4 – Ele não está sozinho.

A família “Extraordinário” cresceu e conta com outros livros, que trazem novas perspectivas sobre a história, os preceitos do sr. Browne e um diário temático. Além disso, será lançado em março o livro ilustrado da série. Conheça todos eles aqui.

 

5 – O livro virou filme!

A adaptação cinematográfica de “Extraordinário” foi protagonizada por Jacob Tremblay e Julia Roberts.  

 

6 – É uma história para todas as idades.

O mundo de Auggie consegue encantar crianças e adultos, apresentando reflexões para todas as idades. Para as crianças, um lindo livro com um personagem cativante. Para os adultos, um lembrete de que ser gentil é sempre a melhor opção.

testeNovo teaser de Cinquenta tons mais escuros

Faltam menos de duas semanas para a estreia de Cinquenta tons mais escuros nos cinemas. Para deixar os fãs ainda mais ansiosos, foi divulgado um novo teaser com cenas extras (e muito mais quentes) entre Grey e Anastasia.

 “I don’t wanna live forever”, música que embala o momento entre o casal, é cantada por Taylor Swift e Zayn. A canção faz parte da trilha sonora do filme e teve também o clipe divulgado recentemente.

nova edição do livro que inspirou o longa já está nas livrarias e traz extras, conteúdos inéditos, comentários e fotos de E L James sobre os bastidores da produção cinematográfica e o primeiro capítulo do próximo livro da autora: Cinquenta tons mais escuros pelos olhos de Christian.

A adaptação de Cinquenta tons mais escuros estreia em 9 de fevereiro nos cinemas. Os ingressos já podem ser adquiridos pelo Messenger da página do filme no Facebook.

testeEdição especial de Pequenas grandes mentiras chega às livrarias em fevereiro

A edição especial de Pequenas grandes mentiras chega às livrarias em 14 de fevereiro com capa inspirada na série Big Little Lies. A obra conta a história de três mulheres que têm uma vida aparentemente comum em uma pequena cidade da Austrália.

Madeline é forte e passional. Celeste é dona de uma beleza estonteante e Jane é uma jovem mãe solteira. Os filhos dessas três mulheres estudam na mesma escola, onde acontece uma misteriosa tragédia.

A série terá sete episódios e estreia em 19 de fevereiro na HBO. Big Little Lies conta com a produção de Reese Whitherspoon e Nicole Kidman que, com Shailene Woodley, também interpretam as protagonistas. A direção é de Jean-Marc Vallée, conhecido por Clube de Compras Dallas, Livre e A jovem rainha Vitória. 

testeLeia um trecho de Matéria escura, de Blake Crouch

Obra do autor da trilogia Wayward Pines chega às livrarias em 20 de fevereiro

Você é feliz com a vida que tem?

Essas são as últimas palavras que Jason Dessen ouve antes de acordar num laboratório, preso a uma maca.  Raptado por um homem mascarado, Jason é levado para uma usina abandonada e deixado inconsciente. Quando acorda, um estranho sorri para ele, dizendo: “Bem-vindo de volta, amigo.”

Neste novo mundo, Jason leva outra vida. Sua esposa não é sua esposa, seu filho nunca nasceu e, em vez de professor numa universidade mediana, ele é um gênio da física quântica que conseguiu um feito inimaginável. Algo impossível. Será que é este seu mundo, e o outro é apenas um sonho? E, se esta não for a vida que ele sempre levou, como voltar para sua família e tudo que ele conhece por realidade?

Com ritmo veloz e muita ação, Matéria escura é uma criação de Blake Crouch, também autor da trilogia Wayward Pines, que deu origem à série de TV exibida pela FOX.  Marcante e intimista, seus múltiplos cenários compõem uma história que aborda questões profundamente humanas, como identidade, o peso das escolhas e até onde vamos para recuperar a vida com que sonhamos.

 

Leia um trecho de Matéria escura:
Capítulo Um

Adoro as noites de quinta-feira.

Parecem suspensas no tempo.

É uma tradição nossa, só nós três: a noite em família.

Meu filho, Charlie, está sentado à mesa desenhando num bloco grande. O garoto tem quase quinze anos. Cresceu cinco centímetros nos últimos meses e agora está da minha altura.

Paro de cortar a cebola por um momento e me viro para ele.

— Posso ver?

Charlie ergue o bloco de desenho e me mostra uma cadeia de montanhas que parece a paisagem de outro planeta.

— Adorei — digo. — Fez só por fazer?

— Trabalho da escola. Para amanhã.

— Então continue, seu atrasadinho.

Aqui neste momento, feliz e ligeiramente embriagado em minha cozinha, nem imagino que hoje à noite tudo isso acabará. Será o fim de tudo que conheço, tudo que amo.

Não há avisos quando tudo está prestes a mudar, a ser tomado de você. Nenhum alerta de proximidade, nenhuma placa indicando a beira do precipício. E talvez seja isso o que torna a tragédia tão trágica. Não é apenas o que acontece, mas como acontece: um soco que vem do nada, quando você menos espera. Não dá tempo de se esquivar ou se proteger.

Os spots de luz brilham na superfície do vinho e a cebola está começando a fazer meus olhos arderem. Na sala, um disco de Thelonious Monk gira na vitrola. O som das gravações analógicas é de uma riqueza que nunca me cansa, em especial o crepitar da estática entre uma faixa e outra. Pilhas e mais pilhas de vinis raros enchem a sala. Vivo prometendo a mim mesmo que algum dia vou tirar um tempinho para organizar tudo.

Minha esposa, Daniela, está sentada ao balcão da cozinha, girando a taça de vinho quase vazia numa das mãos e mexendo no celular com a outra. Ela sente meu olhar e sorri, sem tirar os olhos da tela.

— Eu sei, estou violando o princípio fundamental da noite em família.

— O que tem aí de tão importante? — pergunto.

Daniela ergue seus olhos escuros de espanhola.

— Nada.

Vou até ela, pego calmamente o celular de sua mão e o coloco na bancada.

— Você podia fazer o macarrão — digo.

— Prefiro ver você cozinhar.

— Ah, é? — Depois, mais baixo: — Fica excitada?

— Não. É que é mais divertido ficar só bebendo, sem fazer nada.

Sinto seu hálito adocicado pelo vinho, e ela abre aquele seu sorriso arquitetonicamente impossível, que ainda me deixa louco.

Termino minha taça.

— Mais uma garrafa?

— Acho que é nosso dever.

Enquanto manipulo o saca-rolhas, ela volta a pegar o celular para me mostrar a tela.

— Estava lendo uma crítica da Chicago Magazine sobre a exposição de Marsha Altman.

— Foram bonzinhos com ela?

— Aham. Quase uma carta de amor.
— Que bom para ela.
— Sempre achei que…

Ela não termina a frase, mas nem precisa. Quinze anos atrás, antes de nos conhecermos, Daniela era uma promessa no cenário artístico de Chicago. Tinha um estúdio em Bucktown, já exibira seus trabalhos em uma meia dúzia de galerias e acabara de conseguir sua primeira exposição individual em Nova York. Então veio a vida. Eu. Charlie. Uma incapacitante depressão pós-parto.

Descarrilamento.

Hoje, ela dá aulas particulares de arte para alunos do fundamental.

— Não é que eu não fique feliz por ela. Marsha é brilhante, ela merece.

— Caso sirva de consolo, esses dias mesmo Ryan Holder ganhou o Pavia — comento.

— O que é isso?

— Um prêmio multidisciplinar, concedido por realizações nas ciências físicas e naturais. No caso de Ryan, foi por um trabalho em neurociência.

— E ganha uma bolada?

— Um milhão de dólares. Honrarias. Financiamentos de pesquisas.

— Assistentes gostosas?

— Esse é o maior prêmio, claro. — Então, acrescento: — Ryan me chamou para uma comemoração informal hoje, mas eu nem vou.

— Por quê?

— Porque hoje é a nossa noite.

— Devia ir.

— Prefiro ficar aqui, de verdade.

Daniela ergue a taça vazia.

— Então você está me dizendo que hoje nós dois temos bons motivos para beber muito.

Dou um beijo nela e encho sua taça com o vinho que acabei de abrir.

— Você podia ter ganhado esse prêmio — diz Daniela.

— Você podia ser o maior nome no cenário artístico desta cidade.

— Mas fizemos isto. — Ela indica o amplo espaço em volta, referindo-se à nossa casa de pé-direito alto. Comprada com o dinheiro da herança que ganhei numa época pré-Daniela. — E aquilo — acrescenta, apontando para Charlie.

Ele desenha com uma intensidade tão linda que lembra a mãe quando está concentrada em alguma pintura.

É estranho ter um filho adolescente. Uma coisa é criar um menininho, e outra, completamente diferente, é uma pessoa quase adulta esperar que você a ensine a viver. Sinto que tenho pouco a oferecer. Sei que alguns pais enxergam o mundo com clareza e confiança, que sabem exatamente o que dizer aos filhos, mas não sou um deles. Quanto mais envelheço, menos entendo as coisas. Amo meu filho. Charlie é tudo para mim. No entanto, não consigo fugir à sensação de que estou em falta com ele. Lançando-o aos lobos sem nenhum recurso além das migalhas de minha perspectiva incerta.

Abro o armário ao lado da pia e começo a procurar um pacote de fettuccine.

— Seu pai podia ter ganhado o Nobel — diz Daniela a Charlie.

Dou uma risada.

— Isso é um exagero.

— Não deixe que ele engane você, Charlie. Seu pai é um gênio.

— São seus olhos — respondo. — E o vinho.

— É verdade, você sabe que é. A ciência não avança mais por sua culpa, porque você ama sua família.

Só me resta sorrir. Quando Daniela bebe, três coisas acontecem: seu sotaque original aflora, ela se torna agressivamente gentil e tudo que fala tende à hipérbole.

— Seu pai me disse uma vez… nunca vou esquecer… que a pesquisa científica consome a vida de uma pessoa. Ele disse…

Por um instante, para minha surpresa, a emoção toma conta de Daniela. Seus olhos ficam marejados e ela balança a cabeça rapidamente, como sempre faz quando sente que está prestes a chorar. No último segundo, ela contém as lágrimas.

— Ele me disse: “No meu leito de morte, quero me lembrar de vocês, não de um laboratório frio e asséptico.”

Olho para Charlie e o flagro fazendo uma careta enquanto desenha.

Provavelmente constrangido com nossa excessiva demonstração sentimental.

Fico olhando para o interior do armário enquanto espero o nó na garganta desatar.

Quando passa, pego o macarrão e fecho o armário.

Daniela toma o vinho.

Charlie desenha.

O momento passa.

— Onde é a festa do Ryan? — pergunta Daniela.

— No Village Tap.

— É o seu bar preferido, Jason.

— E daí?

Ela se aproxima e pega o pacote de macarrão da minha mão.

— Vá tomar um drinque com seu velho amigo de faculdade. Diga que está orgulhoso dele. Cabeça erguida. E dê os parabéns por mim.

— Não vou dar seus parabéns.

— Por que não?

— Porque ele tem uma queda por você.

— Para com isso.

— É sério. Há um tempão. Desde a faculdade. Não se lembra da última festa que demos no alojamento? Quando ele ficou tentando beijar você?

Ela apenas ri.

— O jantar vai estar na mesa quando você voltar — diz.

— Ou seja, tenho que voltar em…

— Quarenta e cinco minutos.

— O que seria de mim sem você?

Ela me dá um beijo.

— Não vamos pensar nisso. Pego minhas chaves e a carteira no prato de cerâmica que fica ao lado do micro-ondas e vou até a sala. Meus olhos passam brevemente pela luminária de hipercubo acima da mesa de jantar, um presente de Daniela quando completamos dez anos de casados. O melhor que já ganhei.

Quando chego à porta, ela grita:

— Traz sorvete!

— De flocos! — acrescenta Charlie.

Faço sinal de positivo com o polegar.

Não olho para trás.

Não me despeço.

E o momento passa despercebido.

O fim de tudo que conheço, tudo que amo. [Leia +]

teste12 filmes inspirados em livros que estão disponíveis na Netflix

 

É normal ouvir por aí que às vezes passamos mais tempo navegando pelo catálogo da Netflix do que assistindo aos filmes. Para ajudar nessa tarefa, selecionamos atrações que foram baseadas em obras publicadas pela Intrínseca. Temos sugestões para todos os gostos!

Confira:

O lado bom da vida — Publicado em 2013, o livro de Matthew Quick virou uma superprodução com Jennifer Lawrence e Bradley Cooper.

A obra conta a história de Pat Peoples que, depois de uma temporada em um hospital psiquiátrico, passa a seguir uma nova filosofia de vida que inclui entrar em forma, ser gentil e, principalmente, fazer de tudo para se reconciliar com a ex-mulher.  O longa teve oito indicações ao Oscar.

 

Um dia — O best-seller de David Nicholls emocionou milhares de pessoas ao contar a história de Dexter Mayhew e Emma Morley. Os dois se conhecem em 1988 e sabem que no dia seguinte, após a formatura na universidade, deverão trilhar caminhos diferentes. Mas, depois de apenas um dia juntos, não conseguem parar de pensar um no outro, e 15 de julho, data do primeiro encontro, os acompanhará pelos próximos vinte anos.

Um dia foi adaptado para os cinemas em 2011 com Anne Hathaway e Jim Sturgess no elenco.

 

Série Crepúsculo — A série escrita por Stephenie Meyer virou um fenômeno no mundo todo e deu origem a cinco filmes. Com Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner e Billy Burke no elenco, os longas acompanham a história da adolescente Isabella Swan, que se muda para Forks e vivencia um mundo totalmente novo ao se apaixonar pelo vampiro Edward Cullen.

 

Ele está de volta — Já pensaram como seria se Hitler aparecesse em um terreno baldio sem saber o que aconteceu após 1945? No sarcástico livro do escritor alemão Timur Vermes, Adolf Hitler acorda em Berlim com uma forte dor de cabeça, 66 anos depois do fim da Segunda Guerra e na Alemanha de Angela Merkel. As pessoas acreditam que ele não passa de um ator, um imitador brilhante que se recusa a sair do personagem. Até que o impensável acontece: ele se torna um campeão de audiência no YouTube e todos querem ouvir seu discurso.

O livro deu origem ao filme dirigido por David Wnendt.

 

Percy Jackson e o Ladrão de raios — A adaptação do primeiro livro da série mais famosa de Rick Riordan não poderia ficar de fora do catálogo!

Percy Jackson é um garoto problemático: aos 12 anos, já foi expulso de seis escolas diferentes. Mas esse é o menor de seus problemas: ao descobrir que é um semideus — filho de um deus do Olimpo com uma mortal —, ele também percebe que criaturas mitológicas, por algum motivo, estão bastante irritadas com ele.

O filme foi lançado em 2010 pela Fox Film do Brasil.

 

A rede social Os detalhes sobre os bastidores do Facebook foram revelados com a publicação de Bilionários por acaso: a criação do Facebook, uma história de sexo, dinheiro, genialidade e traição em 2010.

A obra que deu origem ao filme A rede social conta como dois estudantes desajustados de Harvard conseguiram criar a maior rede social do mundo enquanto tentavam apenas aumentar suas chances com o sexo oposto.

O longa recebeu oito indicações ao Oscar e ganhou a estatueta nas categorias de melhor roteiro adaptado, melhor edição e melhor trilha sonora.

 

HospedeiraAlém da série Crepúsculo, Stephenie Meyer também escreveu A hospedeira. O livro foi adaptado para o cinema com Saoirse Ronan, Max Irons, Jake Abel e Diane Kruger no elenco.

Na história, estreia de Meyer na ficção científica, a Terra foi ocupada por alienígenas que parasitam os humanos, tomando o lugar de suas almas. Melanie é uma hospedeira que resiste, bombardeando a alma coabitante com memórias e desejos, recusando-se a esquecer seu passado, inclusive Jared, que se torna a paixão das duas habitantes do mesmo corpo.

 

Precisamos falar sobre o Kevin — O perturbador livro de Lionel Shriver deu origem a uma das adaptações mais comentadas de 2012. Na tentativa de compreender o motivo do assassinato em massa cometido pelo filho adolescente na escola, a mãe escreve cartas ao pai de Kevin e rememora cada minúcia da vida conjugal. Em um antielogio à maternidade ela explicita os instintos sombrios, diariamente menosprezados, por trás dos sagrados laços de família.

A adaptação teve indicações ao Globo de Ouro em 2012 e ganhou diversos prêmios na Europa.

 

O mestre dos gênios Incluído recentemente no catálogo da Netflix, o filme foi inspirado na biografia Max Perkins: um editor de gênios. Max Perkins foi um dos maiores editores do século XX e fez história ao revelar talentos como F. Scott Fitzgerald, Ernest Hemingway e Thomas Wolfe.

O longa tem Colin Firth, Jude Law e Nicole Kidman no elenco.

 

O homem que mudou o jogo — Estrelado por Brad Pitt, a adaptação de Moneyball: o homem que mudou o jogo, de Michael Lewis, conta a história real de Billy Beane. Gerente geral do time de basebol do Oakland Athletics, Beane mudou a forma de se pensar a gestão dos times de beisebol ao usar um alto conhecimento em matemática para determinar o modo de contratar e selecionar atletas.

 

Intocáveis — A produção francesa mais assistida de todos os tempos foi inspirada no livro O segundo suspiro, que relata a amizade improvável entre Phillippe Pozzo di Borgo, um aristocrata francês que ficou tetraplégico após um acidente de parapente, e seu acompanhante,  Abdel Sellou, ex-presidiário argelino.

 

Como treinar o seu dragão — A série de Cressida Cowell serviu de inspiração para animação produzida pela Dream Work Studios, que mostra o cotidiano de uma tribo de vikings às voltas com dragões de todo o tipo. 

testeO livro que ganhou minha prateleira e meu coração

Por Nina Lopes*

Eu tenho dois tipos preferidos de história: as românticas, que afloram todo o amor que carrego, e as de suspense, que despertam o detetive que mora dentro de mim. Quando um livro é capaz de juntar as duas coisas, pronto, já vai para a minha prateleira de preferidos. E nessa prateleira não pode faltar A verdade sobre o caso Harry Quebert. O combo romance arrebatador com fim trágico, investigação policial, passado repleto de mistério e o processo de escrita de um autor só poderia se tornar um fenômeno mundial. E não é todo dia que um escritor jovem, formado em Direito, de um país pequeno como a Suíça, que escreve em francês, mas situa sua história nos Estados Unidos, consegue agradar a exigente crítica francesa e a do resto do mundo e também um público igualmente rigoroso.

Hoje em dia a dinâmica do leitor é outra. Não basta ser fã do livro, é preciso seguir os ídolos nas redes sociais. Como não sou boba, fui logo curtindo a página do Joël Dicker e ao longo desse tempo fui acompanhando sua rotina de divulgação do livro, suas viagens e as fotos do seu dia a dia. Até que no ano seguinte, como um bom autor de thriller, ele criou um suspense dizendo que ia anunciar uma novidade em alguns dias. Marcou, inclusive, data e horário com os fãs. Lá fui eu calcular o fuso horário, marcar a data na minha agenda e apertar F5 enquanto a página não atualizava. Depois da espera, da ansiedade e de várias suposições, Dicker anunciou que lançaria um novo livro. E mais: o personagem emblemático da história anterior, Marcus Goldman, voltaria.

E aí você se pergunta: como inovar trazendo o mesmo personagem outra vez em busca de uma história para contar? E o mais difícil: como superar um sucesso mundial? Mas Joël Dicker não foi tão aclamado à toa. A história do seu novo livro começa em 2004, com o chamado “dia do Drama” (Drama em caixa alta para ficar mais impactante, do jeito que a gente gosta), em que um dos primos de Marcus Goldman é condenado a cinco anos de prisão. Somos introduzidos ao passado do personagem, que cresceu feliz ao lado dos tios endinheirados, dos primos e de um grande amor de juventude, mas o destino de todos eles acabou marcado por uma tragédia inesperada.

As memórias dessa época voltam quando Marcus resolve passar uma temporada na Flórida e lá reencontra seu amor do passado. Não só a antiga paixão reacende, como também os ressentimentos e as peças soltas de um quebra-cabeça que ele nunca conseguiu montar. Enquanto tenta desvendar o mistério do que aconteceu com as pessoas que ele mais amava e decidir seu futuro, Marcus Goldman resolve escrever um romance sobre a sua família, mas com uma bela intenção por trás: a de perdoar e redimir aqueles que erraram e sofreram.

Dessa vez, Dicker escreveu um livro ainda mais inteligente e maduro e consolidou um estilo narrativo próprio, como todo grande escritor. Sua humanidade na hora de contar a história e sua sensibilidade na construção dos personagens são, para mim, o grande diferencial desse autor. Abordando temas presentes na vida de todos nós, como disputa de ego e poder, o peso da culpa, rivalidade na família e a desagradável responsabilidade de agradar os pais e ser bem-sucedido, O livro dos Baltimore certamente vai fazer sucesso com quem gostou de A verdade sobre o caso Harry Quebert, e também com quem não conhece a primeira obra, pois as duas funcionam de forma separada. Na realidade, certamente vai agradar a todos que gostam de uma boa história.

Ao usar o mesmo personagem, Dicker torna a literatura e os leitores testemunhas da vida de Marcus Goldman. Um romance completo, com mistérios, segredos, amor (obrigada, Dicker!) e um final lindo e tocante que vai emocionar principalmente quem já perdeu alguém especial. Uma leitura que vale a pena, porque, como diz o próprio Marcus, os livros são ainda mais intensos que a vida.

>> Leia um trecho de O livro dos Baltimore

Nina Lopes é editora assistente no setor de ficção da Editora Intrínseca e é dessas que se apaixonam pelos personagens dos livros que lê.

testeO martelo de Thor recebe prêmio pela diversidade LGBT na literatura

O martelo de Thor, segundo livro da série Magnus Chase e os deuses de Asgard, recebeu o Stonewall Book Awards de 2017 na categoria infantojuvenil. O prêmio é concedido pela American Library Association para obras que celebram a diversidade na literatura abordando a temática LGBT.

Na obra, Rick Riordan apresenta um novo personagem para os leitores: Alex Fierro. Por ser gênero fluido, Alex não se identifica exclusivamente com um único gênero. Ou seja, ao longo da história se reconhece como menino ou menina dependendo do que sente no momento. Filho(a) de Loki, Alex faz questão de ser tratado de acordo com seu gênero. Gosta de rosa e verde e usa tanto saias e vestidos quanto paletós, calça jeans e gravatas.

Assim como Magnus Chase, Alex fugiu de casa e morou nas ruas de Boston antes de ir para Valhala, já que sua família não aceitava sua ascendência nórdica nem sua natureza — Alex também é metamorfa, característica que lhe possibilita se transformar em outros seres, assim como o personagem da graphic novel Nimona, de Noelle Stevenson. Alex é cabeça dura e tem temperamento forte, mas sua ajuda é imprescindível para recuperar o martelo de Thor.     

No Twitter, Rick Riordan se disse honrado e surpreso e afirmou que recebe o prêmio como uma chamada pessoal para promover cada vez mais autores LGBT.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Além de O martelo de Thor, outra obra agraciada este ano com o Stonewall Book Awards também será publicada pela Intrínseca. No segundo semestre, publicaremos If I Was Your Girl, romance da autora transgênero Meredith Russo que narra a história de uma garota também trangênero e sua jornada de amadurecimento.

Se você ainda não conhece Alex Fierro, separamos um trecho de uma conversa com Magnus Chase:

— Essa é a ironia. Posso mudar minha aparência para o que ou quem eu quiser. Mas meu gênero? Não. Não posso mudar por vontade própria. É realmente fluido, no sentido de que eu não o controlo. Na maior parte do tempo eu me identifico como alguém do sexo feminino, mas às vezes tenho dias muito masculinos. E não me pergunte como sei o que sou em que dia.

— Então por que você não usa palavras neutras? Não seria menos confuso do que ficar trocando de pronomes?

— Menos confuso para quem? Para você?

>> Leia outro trecho de O martelo de Thor

testeEu vou usar óculos

Meu pai usa óculos. Como uma porção de coisas faz parte do show de Cazuza, os óculos fazem parte do charme do meu pai. Ele fica com aquele jeito sou-inteligente-porém-desleixado-que-você-respeita.

Minha mãe, míope. Não tenho nenhuma lembrança dela sem suas lentes enfeitando o momento da leitura. As grandes armações também estão nas fotos antigas, em preto e branco, nas quais ela aparece riponga — claro, de óculos. O modelo vai mudando com o passar dos anos, mas ele está sempre lá.

Minha irmã mais nova usa óculos. Como é pianista, fica sempre com aquele ar de superioridade quando os põe para, veja bem, ler partituras.

Não sei ler partituras.

Mal aprendi a ler uma cifra quando tentei, sozinha, aprender violão.

Os oito anos que me separam da minha irmã e que deveriam me trazer sabedoria se apagam quando ela põe aquele ar intelectual no rosto.

Todos os meus avós usam óculos. Amigos, amigas, Harry, todos.

Menos eu.

E eu nunca soube lidar muito bem com essa fatalidade.

Na infância desejamos coisas estranhas, de fato. Quebrar o braço para usar gesso e tê-lo assinado pelos coleguinhas: sinal de popularidade.

Tem também o desejo de usar aparelho. Essa vontade nunca entendi e até hoje não compreendo, mas me lembro de pegar tiras de papel alumínio, enrolar, colocar na frente dos dentes e passar horas diante do espelho admirando o resultado.

Todos esses desejos foram a típica vontade que “dá e passa”. Realmente, tudo passou, menos meu gosto pelos óculos. Nunca me conformei com o fato de não precisar deles e achava que deveria haver algum engano aí.

Quantas oftalmologistas já marquei! E em todas as consultas eu cogitava mentir sobre as letrinhas miúdas que enxergava sem um pingo de dificuldade. Mas meus escrúpulos me permitiam, no máximo, hesitar antes de dar a resposta certa, por uma questão de dignidade por estar ali tomando o tempo da moça.

Minha vista sempre foi perfeita. Impecável. E assim segui adiante.

Até semana passada.

Nos últimos meses sentia dores de cabeça, olhos queimando, doendo e dificuldade para ver coisas miúdas. Marco a oftalmologista e ela me diz: “Você precisa de óculos.”

Realização.

Envio mensagens para os grupos com minha frase tão esperada para ser escrita “Vou usar óculos” e saio em busca deles. Confesso, foi difícil. Ao contrário dos óculos de sol, esses precisam ficar o tempo todo no rosto, ou seja, viram praticamente uma parte de você.

Depois de uns dias em busca de qual seria finalmente o meu, vejo, de repente, ainda mais pessoas usando as lentes corretoras de mundo ao meu redor. Parece que os míopes se multiplicaram, e se antes eu achava que todos precisavam de óculos, esse número dobrou — claro, porque passei a prestar mais atenção.

Lembrei-me, então, de uma criança de uns cinco anos que conheci numa biblioteca de uma comunidade carente a que fui, no Recife, como escritora convidada. Ela me perguntou:

— O que é preciso para ser poeta?

Fiquei pensando no que responder para que ela compreendesse:

— Você precisa usar os óculos mágicos do poeta.

— Óculos mágicos?

— Sim. Primeiro você imagina que ele existe, e magicamente ele vai existir em seus olhos. Quando você coloca esses óculos, não enxerga mais com os olhos, mas com o coração.

— Como assim?

— O coração é a casa do amor no corpo. Quando você se lembrar de usar esses óculos, vai ver o mundo diferente. Vai ver a poesia que está escondida nas pessoas, nas coisas, porque ela está em todos os lugares, mas a gente não enxerga.

Saí de lá pensando nesses tais óculos, depois me esqueci deles. Afinal, eles foram apenas uma pequena metáfora para crianças. Acontece que esses dias, passando por tantas óticas, eles me voltaram à lembrança.

Tantos míopes de sentido no mundo, meu Deus! Todos, todos precisam de óculos. Inclusive eu.

Deixamos de enxergar a poesia das coisas, de usar a propriedade fundamental das lentes para a vida: corrigir as falhas no mundo.

Uma vez, lendo um livro do Jostein Gaarder, vi a frase: “Tudo o que precisamos para ser bons filósofos é a capacidade de nos maravilharmos com as coisas.” Ele explica que crianças são capazes de se impressionar com o fato de que estamos agora, neste momento, flutuando no espaço, e nós, velhos — por dentro, na minha opinião —, nos acostumamos com o extraordinário.

Em outras palavras: precisamos usar óculos porque estamos ficando cegos, ceguetas, não somos capazes de ver o que eu disse para aquela criança — a poesia escondida nas coisas. Ou a injustiça gritante em outras, o que consegue ser ainda mais sério.

Às vezes acho que a vista das pessoas é monotemática: si mesmo, si mesmo, si mesmo. Existe alguma doença que nos deixa “monovisionários”?

Sim. Creio que sim.

Andamos olhando para baixo: nossos celulares, nossos próprios passos, nosso umbigo. Ninguém se lembra de olhar o céu ou se sustenta nos olhos de alguém sem desviar-se.

Um amigo estava numa livraria dia desses e percebeu que dezenas de livros falam sobre se lembrar de respirar, parar, ouvir.

O essencial, o básico, virou desconhecimento, ficou invisível, embaçado e turvo. Estamos no escuro?

Voltando aos filósofos da história, eles eram filósofos porque simplesmente observavam. Observavam a natureza, os astros, as pessoas e os mistérios da vida.

Precisados estamos de oftalmologistas que receitem colírios de maravilhamento três vezes ao dia, lentes — não descartáveis — de empatia e que, por favor, alguém apague todo o cinza que estão nos obrigando a enxergar. Quem sabe alguma lente especial não devolva nossas cores, descolore as dores e pinte de novos amores nossa cegueira.

Não sei vocês, mas…

Eu vou usar óculos.

testeUm marido amoroso ou um assassino cruel? Conheça o thriller A viúva, de Fiona Barton

A partir de 3 de fevereiro, chega às livrarias A viúva, romance que reconstrói um crime imperdoável por meio de três perspectivas diferentes ao mesmo tempo em que faz uma análise impiedosa de um relacionamento complexo. Uma leitura perfeita para quem gosta de thrillers como Garota exemplar, de Gillian Flynn.

Na trama, Jean Taylor deixou de contar, ao longo dos anos, muitas coisas sobre o terrível crime que o marido era suspeito de ter cometido. Ela estava muito ocupada sendo a esposa perfeita, permanecendo ao lado do homem com quem casara enquanto convivia com os olhares acusadores e as ameaças anônimas.

No entanto, após um acidente cheio de enigmas, o marido está morto, e Jean não precisa mais representar esse papel. Não há mais motivo para ficar calada. As pessoas querem ouvir o que ela tem a dizer, querem saber como era viver com aquele homem. E ela pode contar para eles que havia alguns segredos. Afinal, segredos são a matéria que contamina (ou preserva) todo casamento.

Narrado das perspectivas de Jean Taylor, a viúva, do detetive Bob Sparkes, chefe da investigação, cuja carreira é posta em xeque pelo caso, e da repórter Kate Waters, a mais habilidosa dos jornalistas que estão atrás da verdade, o romance de Fiona Barton é um tributo aos profissionais que nunca deixam uma história, ou um caso, escapar, mesmo que ela já esteja encerrada.

A viúva foi escrito pela consagrada jornalista Fiona Barton, que ganhou destaque mundial na cobertura do caso Madeleine McCann, a menina inglesa desaparecida durante as férias da família em Portugal, em 2007.

 

Leia um trecho de A viúva:

— Meu nome é Kate. Kate Waters, repórter do Daily Post.

— Eu sou… — começo, e de repente me dou conta de que ela não perguntou.

— Eu sei quem você é, Sra. Taylor. — Não são ditas as palavras Você é a matéria. — Não vamos ficar paradas aqui fora.

E, de algum modo, ela entra enquanto está falando.

Eu me sinto chocada demais com o rumo dos acontecimentos para responder, e a mulher toma meu silêncio como permissão para entrar na cozinha com a garrafa de leite e preparar uma xícara de chá para mim. Vou atrás dela em direção à cozinha — não é um cômodo grande, e temos que nos encolher um pouco enquanto ela circula, enchendo a chaleira e abrindo todos os meus armários à procura de xícaras e açúcar. Apenas fico ali, deixando que tudo isso aconteça.

Ela está tagarelando sobre os armários.

— Que cozinha linda, parece novinha; adoraria que a minha fosse assim. Você mesma montou?

É como conversar com uma amiga. Não pensei que falar com um jornalista seria assim. Achei que seria como um depoimento para a polícia. Que seria um suplício, um interrogatório. Foi o que o meu marido, Glen, disse. Mas não é.

— Sim, nós escolhemos portas brancas e puxadores vermelhos porque pareciam bem despojados — respondo.

Estou em casa discutindo armários de cozinha com uma repórter. Glen teria um ataque.

— É por aqui, não é? — diz ela, e eu abro a porta que dá para a sala de estar.

Não sei bem se quero que ela fique — não sei direito como me sinto. Não parece certo protestar agora — ela está apenas sentada, batendo papo com uma xícara de chá na mão. É engraçado, estou gostando bastante da atenção. Fico um pouco solitária nessa casa, agora que Glen se foi.

E ela aparenta estar no comando das coisas. É realmente agradável ter alguém cuidando de mim outra vez. Eu estava começando a entrar em pânico por ter que lidar com tudo sozinha, mas Kate Waters está me dizendo que vai resolver tudo.

Só o que preciso fazer é lhe contar tudo sobre a minha vida, diz ela.

A minha vida? Na verdade, ela não quer saber sobre mim. Não foi até a minha porta para ouvir sobre Jean Taylor. Ela quer saber a verdade sobre ele. Sobre Glen, meu marido.

Veja bem, ele morreu há três semanas. Atropelado por um ônibus bem em frente ao supermercado Sainsbury’s. Em um minuto, meu marido estava ali, me dando um sermão sobre o tipo de cereal que eu deveria ter comprado, e no instante seguinte estava morto na rua. Traumatismo craniano, disseram. Morto, de qualquer forma. Simplesmente fiquei ali olhando para ele caído. As pessoas corriam de um lado para outro procurando cobertores, e havia um pouco de sangue na calçada. Mas não muito. Ele teria ficado contente. Não gostava de ver nada bagunçado. [Leia +]