Artigos

Garra: como despertar a vontade de vencer?

27 / dezembro / 2016

Por Letícia Calhau*

Aos 27 anos, Angela Duckworth deixou um emprego conceituado para ser professora de matemática em uma escola pública. A transição, porém, não foi simples. Sua vida financeira mudou de maneira drástica; os almoços com executivos foram substituídos por lanches rápidos durante exaustivas jornadas de trabalho e suas roupas passaram a ser as mais confortáveis possíveis, já que agora ela passava muitas horas em pé dando aulas para alunos do 7º ano.

No livro Garra, Angela divide suas experiências com o leitor a fim de explicar que a garra (e não apenas o talento ou a genialidade) pode ser um diferencial para a conquista de objetivos pessoais, e que essa habilidade pode ser aprendida e desenvolvida. Seu interesse por saber como se dá o processo de aprendizagem, e por que algumas pessoas perseveram em uma meta, enquanto outras não obtêm bons resultados ou abandonam projetos, orienta uma pesquisa promissora no campo da aprendizagem.

Sua teoria de que a garra é mais eficaz que o talento na busca pelo sucesso joga por terra a tão difundida ideia de que esforço e empenho são importantes. Por meio de estudos, a autora demonstra como perseverança e paixão podem ser os principais combustíveis na corrida por resultados. Duckworth usou em suas pesquisas a rotina alunos, militares e funcionários de grandes empresas, aplicando questionários a aspirantes a cargos e vagas disputadas, avaliando quais deles teriam mais chance de conseguir o posto e mais tarde comparando suas análises com o resultado final da seleção.

Por conta própria, você pode aumentar sua garra “de dentro para fora”: pode cultivar seus interesses; pode adquirir o hábito de praticar todos os dias a superação de dificuldades; pode ligar seu trabalho a um objetivo que vá além de si mesmo; e pode aprender a manter a esperança quando tudo parecer perdido.

Com tantas diferenças entre os estudantes, tantas carências materiais, tantas crenças sobre quem é capaz ou quem está destinado ao fracasso, entender um pouco mais sobre como contribuir para que os jovens tenham chances mais igualitárias de sucesso em seus estudos se torna de grande ajuda para quem atua diretamente com educação. Por mais que saibamos que não existem fórmulas perfeitas sobre como ensinar, é possível aproveitar ideias e resultados das pesquisas que Angela Duckworth mostra em Garra.

Por que os outros são tão importantes? Em primeiro lugar, eles nos dão estímulo e informação essenciais para que gostemos de alguma coisa cada vez mais. E também porque — de maneira mais evidente — o retorno positivo nos faz sentir felizes, competentes e seguros.

O livro é dividido em três partes. A primeira nos ajuda a entender o que a pesquisadora chama de garra e sua relação com o tão idealizado talento. Ela explica que a garra pode ser desenvolvida, diferente do que imaginamos sobre talento, e que para isso bastam investimentos pessoais. Na segunda parte, aprendemos como cultivar a garra internamente. Angela usa vários exemplos de pessoas que desenvolveram a garra, com algumas ideias de trabalho como a prática disciplinada. A autora faz referência a Carol Dweck, que desenvolveu uma teoria muito interessante que talvez seja um dos caminhos de resposta para os questionamentos que Angela coloca. Carol trabalha com a mentalidade de crescimento.

1. Sua inteligência é um elemento básico, e você pouco pode fazer para alterá-la.
2. Você pode aprender coisas novas, mas não pode aumentar sua inteligência.
3. Seja qual for o nível de sua inteligência, você sempre pode modificá-la um pouco.
4. Você sempre pode modificar substancialmente sua inteligência.
Se você concordou com as duas primeiras afirmações e negou as duas últimas, Carol diria que você tem uma mentalidade mais rígida.

No último capítulo, Angela aborda o papel dos educadores para a conquista da garra e dá dicas de como cultivar a garra de fora para dentro. É uma das partes mais impactantes para pessoas que atuam no ensino e na educação.

O que posso fazer para despertar a garra nas pessoas que são importantes para mim? Ouço essa pergunta ao menos uma vez por dia. Às vezes, quem pergunta é um treinador esportivo; outras vezes, é um empreendedor ou o CEO de uma empresa.

Neste capítulo, a autora desenvolve uma teoria bem interessante sobre os perfis de pessoas que têm mais chance de desenvolver ou contribuir para o desenvolvimento de garra. Entre pais e educadores, é comum a dúvida sobre qual é a melhor atitude no momento de orientar jovens em sua jornada de crescimento. Qual seria o melhor perfil, o compassivo ou o exigente? O que vale mais: a cobrança contínua por padrões mais altos após um bom resultado ou um abraço carinhoso depois de uma derrota?

Em Garra, Angela Duckworth foi capaz de reunir histórias, referências e ideias provocadoras sobre tudo o que ouvimos sobre educação, trabalho e realização pessoal. Sua linguagem extremamente didática é capaz de alcançar qualquer pessoa que tenha interesse por conhecimento e aprendizagem. Seu livro não é do tipo que dá as respostas prontas, mas certamente nos incentiva a pensar diferente sobre como aprendemos e como estamos educando.

>> Leia um trecho

 

* Letícia Calhau é professora da área de educação, mestranda e pesquisadora na área de inclusão em educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Carioca, nascida no subúrbio do Rio de Janeiro, blogueira e criadora de hortas caseiras.

Tags , , , .

Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *