Joaquim Ferreira dos Santos

O céu dos elegantes

6 / dezembro / 2016

julioregooJulio Rego em 2004Marcos Ramos / Agência O Globo

O produtor de moda Julio Rego, gentleman que faleceu na madrugada de segunda-feira [5/12], foi um grande amigo de Zózimo Barrozo do Amaral e está em várias etapas da biografia do colunista. Eram parecidos nas boas coisas da vida, como no humor constante e na elegância de se vestir. Eram parecidos também nas coisas mais complicadas. Os dois enfrentaram os dramas do alcoolismo. Julinho costumava contar sobre a noite em que foi colocado para fora do Hippopotamus pelo proprietário da boate, Ricardo Amaral. Quando sóbrio, Julinho era o fino; de porre, um monstro de inconveniências. Com toda razão Ricardo o expulsou. Jogado na calçada pelo segurança, foi recolhido por um taxista solidário, que, no entanto, não conseguiu fazer o serviço a que se prestava:

— Para onde o senhor vai? — perguntou o profissional.
— Nunca saberás — balbuciou Julinho.

Em público, Julinho ficou famoso por subverter os padrões do bom gosto masculino. Era capaz de vestir Jô Soares, a quem orientou por três décadas, com um paletó de listras horizontais e uma calça de verticais. Nos óculos, aros vermelhos. O resultado era um Jô elegantérrimo, ousado, padrão que Julinho também seguia no dia a dia de suas andanças por Ipanema.

Zózimo e Julinho encontraram-se centenas de vezes no circuito da boemia high society. Frequentaram o Hippo, o Regine’s e todos os salões de uma sociedade mais liberal. Foi Julinho quem carregou Zózimo, que fumava quatro maços de cigarro por dia e entornava outras tantas garrafas por noite, para a clínica de reabibilitação de Constança Teixeira de Freitas, em Santa Teresa. O colunista passou dois meses internado e nunca mais colocou um cigarro ou gota de álcool na boca. Infelizmente, manteve-se limpo por apenas sete meses, pois esse foi o tempo que viveu depois de sair da clínica, quando foi diagnosticado com o câncer que o mataria, em novembro de 1997.

Julinho e Zózimo no céu dos elegantes deve ser uma grande farra de gargalhadas.

Comentários

Uma resposta para “O céu dos elegantes

  1. Amo as crônicas de Joaquim.Inteligencia humor finura raros hj.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *