Monica de Bolle

Hidra de três cabeças? Dilma, Lula, e Trump

23 / novembro / 2016

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A Hidra de Lerna da políitca americana: Donald Trump. (Fonte)

Diz-se que a Hidra de Lerna é uma serpente com múltiplas cabeças e que, se, porventura, uma delas for cortada, nascem outras duas em seu lugar. A Hidra de Lerna, assim como outros seres exóticos, habita o universo de O livro dos seres imaginários, de Jorge Luis Borges, um de meus escritores prediletos.

Por que, porém, falo da Hidra? Afinal, pediram-me que escrevesse uma coluna sobre a borboleta-azul. Explico.

Tenho pensado muito na eleição de Donald Trump aqui nos Estados Unidos. Tenho refletido sobre o que o presidente eleito revelou até agora sobre sua personalidade, suas preferências e seus planos econômicos. Cheguei à conclusão de que ele é como a Hidra de Lerna: uma criatura que tem a cabeça de Collor, a cabeça de Lula e a cabeça de Dilma.

 

A cabeça de Collor

Trump nasceu rico, como Collor. Durante sua campanha, prometeu “drenar o pântano de Washington”, livrando-se das grandes corporações e dos lobistas que influenciam políticos por interesse próprio. Espécie de caçador de marajás à americana. Trump não quer morar na Casa Branca, a residência oficial, embora tenha de fazê-lo ao menos durante parte da semana. Nos fins de semana, talvez possa retornar à sua casa da dinda: a Trump Tower, em Manhattan.

A cabeça de Lula

Ao longo de toda a campanha, Trump prometeu lutar pela classe trabalhadora americana, os supostos destituídos pela globalização. Como todo líder populista, valeu-se da retórica nós contra eles. Portanto, teve de identificar quem eram “eles”. Os “eles” de Trump dividiam-se basicamente em dois grupos, não mutuamente excludentes: as elites corruptas, ou a zelite, e a mídia mentirosa, ou a mídia golpista. O presidente eleito também salientou, em diversas ocasiões, que “ama aqueles que têm pouca educação”. Carismático e de fala simples, incendiou paixões e multidões, como o “filho do Brasil”.

A cabeça de Dilma

Finalmente, depois desse preâmbulo, chego à borboleta-azul. No livro, destaco algumas políticas adotadas por Dilma que beneficiaram mais os ricos do que o povo: a bolsa empresário do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as desonerações para recuperar a irrecuperável indústria nacional, os planos mirabolantes de investimento em infraestrutura — como o Plano Brasil Maior e o Plano de Investimento em Logística —, as medidas protecionistas que garantiriam o ressurgimento da indústria ao reservar o mercado local para as empresas nacionais.

Trump promete resgatar a indústria e aumentar a disponibilidade de empregos. Almeja fazê-lo por meio do protecionismo, dos investimentos em infraestrutura, dos cortes de impostos para as empresas, sobretudo para as maiores. Trump, na economia, tem, inequivocamente, a cabeça de Dilma, cérebro da Nova Matriz. Há inclusive planos para “reformular o Federal Reserve” (FED, o Banco Central americano). Talvez o tornando mais politizado, como fez Dilma? A ver.

 

Hidra de Lerna, borboleta-azul, laranja mecânica: essa história não deve acabar bem.

>> Leia um trecho de Como matar a borboleta-azul: Uma crônica da era Dilma

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