Fernando Scheller

Para reencontrar Buenos Aires

13 / outubro / 2016

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Cena de O Último Tango (Fonte)

Há duas oportunidades no cinema para reencontrar Buenos Aires sem sair do Brasil. Nos últimos dias, dois filmes me transportaram diretamente para a cidade que ambientou meu primeiro romance, O amor segundo Buenos Aires. Matei saudades de lá assistindo a No fim do túnel e O último tango, mais dois belos exemplares da cinematografia argentina.

No fim do túnel, embora se passe em apenas um ambiente — um casarão em um bairro de classe média alta de Buenos Aires —, lembrou-me da cadência da linguagem dos portenhos e foi uma incrível diversão. Trata-se de um thriller, gênero considerado comercial, mas vi o filme com muito mais satisfação do que qualquer produção brasileira a que tenha assistido este ano (incluindo o bom, contudo longo demais, Aquarius).

Como indicam meu romance e os comentários sobre outros livros que tenho postado aqui, sou atraído mais por trama do que por estilo. Pois No fim do túnel tem os dois. Leonardo Sbaraglia (que já havia sido destaque em um dos episódios de Relatos selvagens) interpreta aqui o dono do casarão, um homem que perdeu o movimento das pernas após o acidente automobilístico que matou sua mulher e sua filha.

Em uma noite de chuva, uma misteriosa mulher (Clara Lago, um estouro) chega, acompanhada da filha, para alugar um quarto que ele havia anunciado na internet. Mais ou menos ao mesmo tempo, ele se dá conta de que criminosos estão cavando um túnel sob a casa para assaltar um banco próximo bem no dia de Natal.

Daqui em diante, não cabe revelar mais, mas é necessário dizer que o desenrolar da história é exemplar: inventivo, surpreendente e carregado de humor negro. O escritor e roteirista Rodrigo Grande sabe se desvencilhar rapidamente dos ganchos óbvios da narrativa, revelando “charadas” que são meio fáceis de adivinhar em questão de poucos minutos. Ele sabe deixar o melhor para o fim.

Outra delícia em cartaz é O último tango, do argentino radicado na Alemanha German Kral. Ainda que seja um documentário,  amarra muito bem os conflitos do mais famoso casal de dançarinos de tango da Argentina. O enredo coleciona sentimentos: amor, ressentimento, mágoas e paixão pela dança.

Além disso, o filme tem tomadas plásticas de Buenos Aires, costuradas com cenas de dança de tirar o fôlego. Com mais de oitenta anos, Juan Carlos Copes e principalmente María Nieves Rego mostram que ainda corre sangue muito quente em suas veias.

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