Bastidores

Uma viagem pela Oceania e pelos livros

12 / agosto / 2016

Por Nina Lopes*


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Vinte e quatro horas de viagem. Três escalas. Um enorme formulário on-line para tirar o visto. Vacina para febre amarela. Tubarões, água-viva com ferrão e aranhas venenosas por toda parte. Não é fácil viajar para a Austrália. Mas eu fui, cheguei no dia mais quente do século e quase não consegui respirar na rua. Superado esse momento, finalmente comecei a aproveitar minhas férias. Depois das atrações turísticas tradicionais, que incluem Sydney Harbour, Opera House e Praia de Bondi, chegou a hora de partir para as verdadeiras aventuras e também visitar a Nova Zelândia, afinal não é sempre que estamos na Oceania.

Pequenas grandes mentiras CAPA PARA LAYOUT.inddO que eu não sabia na época era que essa viagem estava me apresentando um cenário que eu reencontraria mais tarde em alguns dos melhores livros em que trabalhei na Intrínseca: Baía da Esperança, de Jojo Moyes, e Pequenas grandes mentiras, da australiana Liane Moriarty. São duas histórias emocionantes que se passam na Austrália, sobre famílias fortes que guardam segredos, enfrentam obstáculos e sofrem reviravoltas, mas que conseguem vencer as dificuldades enquanto comem belas fatias de pavlova, porque ninguém é de ferro.

Para quem não sabe o que é pavlova, eu explico: é uma sobremesa tradicional desses países, que as famílias preparam em datas importantes como aniversário e Natal. Eu comi numa fazenda no interior da Nova Zelândia e só depois descobri sua popularidade. Esse doce está sempre presente nas histórias da Liane Moriarty, que retratam tão bem as rotinas das famílias australianas a ponto de dar ao leitor a impressão de fazer parte de uma. O único problema é que sempre acabo lendo essas cenas na hora do lanche da tarde e fico com uma vontade tremenda de comer aquela casquinha crocante, com frutas, creme e merengue. (Alô, vovó, que tal fazer uma pavlova no próximo Natal? Obrigada.)

E não dá para falar de comida típica sem esquecer o tradicional Vegemite, que também costuma ser muito citado nas histórias que se passam na Austrália. Lembro que uma colega de trabalho, ao ler a prova de um desses livros, falou: “O que é Vegemite? Acho melhor inserirmos uma explicação.” Mas seria o equivalente a perguntar a um brasileiro o que é requeijão. Vegemite é uma pasta de levedura, muito (mas muito) salgada, escura feito graxa, que os australianos e neozelandeses amam. E só eles, porque esse negócio é muito esquisito. (Quem sabe fique mais popular e dispense explicações agora que Miley Cyrus fez uma tatuagem de Vegemite no braço.) E para finalizar a parte gastronômica do texto não dá para deixar de lado a carne de canguru. Esse animal não tem predador na Austrália, então o próprio governo estimula o consumo da carne. Mas recomendo que comam antes de interagir com algum canguru ou vão ficar com pena e desistir de provar essa iguaria.

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Não vi nenhum tubarão, água-viva ou aranha, mas essa viagem oferece a oportunidade de interagir com outros animais exóticos. Por exemplo, preste atenção em qualquer pedra perto do mar na Nova Zelândia porque certamente terá um leão-marinho tomando sol. Se alguma foca resolver te dar um beijo, prepare-se para sentir cosquinha com aqueles bigodões. E uma verdade talvez um pouco chocante: coalas fedem. São muito fofos, muito lindos, mas têm um cheiro característico nada agradável. Por isso não repare se o sorriso dos turistas nas fotos sair meio amarelo: eles estão prendendo a respiração nesse momento, pode acreditar.

211319baiadaesperancaMas voltando aos livros, em Baía da Esperança, a personagem principal da história, Liza McCullen, ganha a vida levando os turistas da região fictícia de Silver Bay, na Austrália, para observar golfinhos e baleias. E a filha dela, Hannah, é apaixonada pelos animais e sonha em interagir mais de perto com eles. Silver Bay me lembrou muito de Kaikoura, na Nova Zelândia, uma pequena cidade na ilha sul que também tem como principal atividade o passeio de barcos para observar golfinhos, focas e baleias. E como os turistas não são bobos e têm o mesmo desejo da Hannah, também é possível mergulhar com os golfinhos selvagens. Então lá fomos nós entrar num barquinho que não parava de balançar enquanto enfrentava as ondas e seguia para alto-mar. Mergulhamos numa água congelante e logo fomos rodeados por inúmeros golfinhos que nadavam, brincavam e pulavam. E ainda era preciso fazer barulhos, porque isso atrai os animais na sua direção. Pelo menos era embaixo d’água e ninguém nos via pagando esse mico.

Saí da Nova Zelândia e fui direto para Cairns, no norte da Austrália, conhecer a tão sonhada Grande Barreira de Corais (afinal, quem viu Procurando Nemo e não sonha em ir lá?), mas São Pedro não quis colaborar e eu cheguei bem no início da temporada de tempestades. Como deu tudo errado, decidi voltar para Sydney e dirigir até Coffs Harbour (um grande destino de férias no país, segundo Jojo Moyes), onde mergulhei com golfinhos resgatados para curar minha tristeza por não ter conhecido Dory e seus amigos. Mas a estrada até lá não era permeada por lanchonetes e postos de gasolina como no Brasil, só havia floresta em volta e algumas placas com desenhos de bichinhos, que eu considerava um detalhe fofo até entender que nesses locais era preciso reduzir a velocidade, pois as placas demarcavam os habitats dos animais. E eu só descobri isso quando de repente, numa estrada vazia no meio da noite, dois cangurus gigantescos passaram tranquilamente bem na frente do nosso carro. Então, dica valiosa: placas com desenhos bonitinhos significam “diminua a velocidade e não morra atropelado pelos bichos”.

Colecionei inúmeros momentos inesquecíveis nessa viagem e é justamente isso que os livros proporcionam: conhecimento, cultura e histórias memoráveis. Viajar é uma das melhores coisas da vida. Ler também. E depois de ir até o outro lado do mundo e voltar, de uma coisa eu tenho certeza: Jojo Moyes e Liane Moriarty são duas das melhores autoras da atualidade, que ambientam suas histórias num dos lugares mais fantásticos do planeta, nos permitem descobrir um novo mundo e, o melhor, nos identificar com ele. E ainda nos proporcionam a chance de vivenciar tudo isso sem ter que entrar no mar gelado para ver golfinhos ou correr o risco de ser atropelado por cangurus selvagens. Só vi vantagens.

*Nina Lopes é editora assistente no setor de ficção da Editora Intrínseca e é dessas que se apaixonam pelos personagens dos livros que lê.

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