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As perguntas certas (ou Como turbinar o cérebro para aprender ciências)

7 / junho / 2016

Por Mário Feijó*

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A ciência se trata de fazer perguntas, por isso o fracasso é tão valioso quanto o sucesso se você descobrir o que deu errado da primeira vez. Faça as perguntas certas, e chegaremos lá. Palavras do vovô Einstein, que seu neto Frank, de um jeito ou de outro, acaba aprendendo. O quê? Ainda não conhece o jovem Frank Einstein? Então é hora de conhecer. E aprender. O menino é um gênio – meio maluco, é verdade, mas seu criador, Jon Scieszka, adora contar histórias malucas. Ele é bom nisso, muito bom. Com as ilustrações de Brian Biggs, a brincadeira fica ainda melhor.

Frank Einstein e o turbocérebro é o terceiro título da fabulosa série que começou com a invenção de dois robôs megahiperdivertidíssimos, Klink e Klank (que preferem ser chamados de inteligências artificiais automontadas).  Desde então, a vida do cientista-mirim e seus amigos não foi mais a mesma; ainda mais com o metido do T. Edison para perturbar com aquela ideia fixa de ser arqui-inimigo. Preciso realmente dizer quanta confusão acontece por causa dos planos de Edison para roubar as experiências inovadoras de seu rival Frank? Desta vez, a novidade é um equipamento para turbinar cérebros, que ajudaria crianças a aprender e idosos a se lembrar. Na cabeça do jovem vilão, porém, o experimento vira um perigo.

Se os personagens são constantes ao longo das aventuras de Frank Einstein, as lições estão sempre variando. Além de entreter, Frank e sua turma vieram para ensinar. Leitores de até doze anos terão um reforço escolar de primeira linha em ciências, com muito humor. Quem já passou da idade para quem Scieszka escreve poderá curtir adoidado as referências à cultura pop, além da oportunidade de relembrar conhecimentos fundamentais, agora apresentados de uma maneira bem mais interessante do que nos livros didáticos. E se você descobrir coisas totalmente novas, relaxe: acontece com a maioria dos pais e até com professores. Como saber nunca é demais, aproveite.

feA série foi pensada para ensinar matéria, energia, humanos, vida, Terra e universo. Do átomo ao cosmos. Para cada volume, um tema-guia. Perguntas curiosas, experiências práticas. A Intrínseca já publicou os primeiros volumes: Frank Einstein e o motor antimatéria e Frank Einstein e o eletrodedo. Agora chegou o terceiro, sobre o corpo humano. Apesar da trama fantástica em primeiro plano, é a aplicação da ciência no cotidiano que encanta educadores e pais entusiasmados com os superpoderes da curiosidade – e ainda permite alguns extras com figuras ilustres como Leonardo da Vinci, Nikola Tesla e até Albert Einstein (nenhum parentesco).

Embora os estilos e os séculos sejam diferentes, há momentos em que Jon Scieszka lembra nosso querido Monteiro Lobato. As crianças gozam de liberdade e independência, adultos só aparecem quando necessário. Os personagens mais charmosos são os não humanos: Klink, Klank e o símio sr. Chimp, que se comunica por meio da linguagem de sinais. A boa literatura quebra barreiras para unir arte, educação e ciência. O avô é o sábio que orienta as crianças, estimulando a observação, a experiência, o erro, a análise daquele erro, a reflexão com base nos fatos, a busca por uma resposta racional para o que aconteceu, a formulação de hipóteses para as próximas tentativas. As crianças sacam que aprender juntos é mais divertido do que separados. Que aprender é uma grande aventura.

Lobato escreveu vários livros com a turminha do Sítio do Picapau Amarelo em busca de saber. Havia enciclopédias, atlas, mapas, dicionários, obras didáticas à disposição da criançada nas escolas, mas Lobato acreditava que ensinar por meio da literatura era bem mais legal. Emília perguntava, o Visconde respondia. Não satisfeita com a resposta, a boneca procurava Dona Benta ou tia Nastácia para confirmar a viscondada. Pedrinho ou Narizinho podiam atestar as palavras do sabugo, mas não tinham a mesma credibilidade que as duas sábias da família. Conhecimentos formais com Dona Benta, conhecimentos populares com tia Nastácia. E o pobre do Visconde, coitado, questionando por que afinal Emília perguntava tanto se nunca queria ouvir sua resposta. É que ela implicava com o jeito dele de falar.

O menino Watson, melhor amigo de Frank, também costuma implicar com as explicações do robô Klink… No fundo, é um jogo dialógico à moda lobatiana. Os mesmos fatos são comentados por diferentes vozes, cada personagem com seu próprio registro: Klink é totalmente preciso, Watson é coloquial. Klank tenta ser engraçado, Frank é sagaz e empolgado. Da interação entre eles, mais vovô e Janegoodall, amiga dos meninos, temos uma aventura baseada em perguntas e respostas. Com muita comédia. O diálogo sobre o maior músculo humano, que é o glúteo máximo, também conhecido como bumbum, é hilário.

Não é indispensável ler os livros na sequência, mas sem dúvida é desejável, aproveita-se mais. O projeto gráfico gera um conjunto harmônico de textos e ilustrações, que se complementam com perfeição. Que venham os próximos volumes. Em casa ou na escola, é diversão garantida.

P.S.: Nunca mais confundirei macaco com símio. Valeu, sr. Chimp.

 

*Mário Feijó é doutor em Letras e professor da Escola de Comunicação da UFRJ. Fã de Júlio Verne e H.G. Wells, foi um devorador de aventuras de ficção científica.

Comentários

Uma resposta para “As perguntas certas (ou Como turbinar o cérebro para aprender ciências)

  1. Oii meu filho tem o 1, 2 e 3 ansioso para chegar o 4,5 e o 6 estamos muito ansiosos meu filho se chama Rian

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