Maurício Gomyde

Ode à alegria

13 / abril / 2016

Esplanada murada - Maurício Gomyde

Esplanada murada – Foto por Maurício Gomyde

Não adianta fugir, não adianta fingir que não é comigo, menos ainda tentar tapar o sol com a peneira. Estamos na semana mais importante do Brasil desde o fim do período militar, e é impossível ficar indiferente a tudo o que está acontecendo. Para um escritor em temporada de escrita de livro, é mortal. Semana passada, falei aqui sobre como as redes sociais roubam nossa atenção. Pois a conjuntura política e social tem sido o capo da operação Ladrões de Tempo deflagrada. Para cada parágrafo escrito, dez sites de política acessados. Não sei quanto tempo vai durar, e espero que tudo seja resolvido logo, de um jeito ou de outro, da melhor maneira possível e sem convulsão social, para que voltemos a pensar em todas as outras coisas importantes que fazem parte da vida.

Moro em Brasília e, diariamente, vou para o trabalho pela Esplanada dos Ministérios. Puseram um muro ali, ao longo do enorme gramado. Dividiram-na, literal e ideologicamente, em “lado esquerdo” e “lado direito”. Os pró do lado esquerdo e os contra do lado direito. Ou vice-versa, dependendo do foco que dermos ao tema. Jamais imaginei que veria isso. Para mim, esse muro é uma vergonha, uma tristeza inenarrável. Como chegamos a esse ponto? Não adianta culparmos um ou outro. A culpa é nossa, é de todo mundo. A autocrítica deve ser feita o quanto antes. Olhando para aquele muro, eu me pergunto: “Tem como voltar atrás?” Infelizmente, vai ser difícil. Já houve a ruptura. Mas, ainda que haja para sempre uma cicatriz, o machucado há de ser curado. Temos o mesmo sangue, não nos esqueçamos.

Não estarei em Brasília no domingo, e sim em Belo Horizonte. Quis o destino que minha tarde de autógrafos na Bienal de Minas fosse exatamente durante a votação. Entenderei como uma dica para minha vida: há outras coisas que podem deixá-lo imensamente feliz. Ficar no meio dos leitores, respirar livros, trocar ideias sobre romances, dar risada, reencontrar amigos escritores. Somos muitos, todos empurrando para a frente a roda da vida. Porque é disto que se trata, em última instância: viver.

Somos brasileiros! Não combinamos com muros. Já temos que matar um leão por dia e, agora, derrubar um muro por dia? Tenho fé em que vamos superar as imensas dificuldades, não importa como nem com quem. Só o que desejo, hoje, é que daqui a um ano eu esteja lançando meu novo livro num contexto de paz, esperança e harmonia. E que tudo o que esteja acontecendo agora seja apenas parte de um profundo processo de transformação, principalmente interior.

Meu novo livro trata disto: felicidade genuína. Talvez todo esse período seja uma lição e me forneça elementos maravilhosos para incorporar à minha história. Escritores somos assim: tentamos captar as coisas no ar, e, quanto mais “ao vivo e agora”, melhor. No que depender de mim, esse livro será uma ode à alegria, assim como minha vida.

Comentários

18 Respostas para “Ode à alegria

  1. Muito bom,Maurício!!! Como sempre, aliás! Parabéns

  2. Estarei na bienal de Minas e vou lá te prestigiar. Separei meu Surpreendente e quero uma dedicatória especial.

  3. De um jeito ou de outro, que venha a alegria. Tô contigo, Maurício!

  4. Parabéns pelo texto e pelo lançamento do livro. Realmente precisamos descobrir a felicidade naqueles momentos que gostaríamos que se tornassem eternos.
    Espero que o “muro” em questão, seja derrubado o quanto antes, pois sua permanência, ainda que de forma simbólica, pode não permanecer somente nas diferenças ideológicas e políticas.
    Um grande abraço e sucesso!

  5. Parabéns, Maurício! O movimento da vida permite.- nos experimentar ondas de alegria, mesmo no turbilhão da desordem política.
    Um grande abraço

  6. Excelente reflexao!!! Espero que esse muro seja derrubado e a democracia, conquistada a duras penas, prevaleça!!!

  7. Parabéns Maurício! Adoro sua coluna!! Atual e pé no chão! ! Sucesso cada vez mais! !

  8. Concordo ? em tudo com você, Maurício. Excelente o seu artigo. Esta semana tem, mesmo, muito de aflição, ansiedade, coração acelerado; afinal, é o nosso futuro a curto prazo em jogo. Mas, tem a alegria do encontro, de estar entre iguais, muitas ideias, muita conversa e muita emoção! É o Brasil em ebulição, novamente! Vamos vivê-lo!

  9. Parabéns pela abordagem. O autor sempre nos surpreende e nos brinda com sua privilegiada visão

  10. Maurício, vc traduziu incrivelmente esse momento que cerca nossos corações e mentes. Um misto de medo, resignação, revolta e, sobretudo, esperança de que um futuro mais leve nos aguarde.

  11. Como eu gosto de seguir sua coluna! Precisamos mesmo de um profundo processo de mudança e eu também sou da turma que espera haver melhorias signicativas em nosso país, mais na nossa cultura. Aí não serão necessários muros nem na esplanada nem nos estádios quando poderemos assistir todos os clássicos entre rivais sem as horríveis cenas de violência entre torcidas. A tarde na Bienal será maravilhosa, aproveite e assine muitas dedicatórias personalizadas.

  12. Muito bom, Maurício! Parabens!Também desejo que o futuro seja de paz, esperança e
    harmonia.

  13. Maurício, que surpresa boa conhecê-lo.
    Obrigado pela leveza das palavras em tempos tão difíceis.

  14. Maurício, um sopro de bom senso nesses tempos turbulentos! Precisamos mto disso. Obrigada!

  15. O Maurício tem que vir para Belém. Por favor por favor! O surpreendente é simplesmente lindo de viver.

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