Desde que lancei A arte do descaso, escuto de amigos e leitores uma mesma pergunta: “Mas, afinal, quem rouba arte?”
A.J.G. Tijhuis é um advogado holandês que dá aula de criminologia na VU University Amsterdam. É um dos membros fundadores da Association for Research into Crimes against Art (Arca), think-tank que tanto me ajudou na investigação do meu primeiro livro. Tijhuis tem um estudo recente intitulado “Who is Stealing all Those Paintings?”, no qual tenta responder a essa pergunta que todo mundo se faz.
A pesquisa de Tijhuis consiste na análise de cinquenta casos de roubo de arte que foram solucionados na Europa entre 1960 e 2003. Quando iniciou seu trabalho, o objetivo do professor era encontrar um traço em comum entre todos os criminosos, mas ele acabou detectando sete perfis possíveis.
Ao contrário do que se possa imaginar, o número de casos do tipo Dr. No, que envolve um milionário interessado em arte, é pífio. Tijhuis encontrou apenas um, e quem estuda o tema a sério luta para derrubar esse mito de que roubo de arte é algo patrocinado por um grande colecionador milionário. Contra nós, no entanto, está Hollywood, com filmes como 007 contra o satânico Dr. No (1962) e Thomas Crown: a arte do crime (1999), além de ícones da literatura, como Arsène Lupin.
O segundo perfil de ladrão detectado por Tijhuis é bem mundano: cleptomaníacos. Nele estão pessoas que roubam por impulso e pelo simples prazer de fazê-lo. Não há nesse grupo interesse de revender as peças ou obter lucro. A graça é outra.
O terceiro tipo de criminoso revelado por Tijhuis apareceu em 14% dos casos analisados. É o dos narcotraficantes ou criminosos que normalmente atuam em outro setor e que, em determinado momento, resolvem roubar arte. As obras de arte levadas por esses indivíduos não são vistas por eles como bens históricos ou culturais; servem como moeda de troca em negociações travadas no mercado, no modelo de escambo. Há registros policiais de arte roubada sendo trocada por carregamentos de cocaína, heroína e até de plutônio, elemento químico utilizado na fabricação da bomba atômica.
O quarto perfil é aquele que rouba para marcar uma posição política. Em 1974, o IRA roubou da Kenwood House, em Londres, o quadro “The Guitar Player” (A violinista), de Johannes Vermeer. Em troca, exigiu a libertação de diversos integrantes do grupo presos.
O quinto tipo de ladrão é o funcionário da entidade vitimada. Em seu estudo, Tijhuis cita um levantamento feito pelo FBI, em 1998, que conclui que 83% dos casos de roubo de arte por eles solucionados tinham contado com o envolvimento criminoso de empregados da instituição-alvo. Os funcionários geralmente facilitam o acesso dos bandidos em troca de vantagem econômica.
O sexto perfil traçado pelo professor é o do ladrão comum, aquele que não tem qualquer interesse em arte e rouba de tudo. Nessa categoria, enquadram-se os endividados e os viciados em drogas, que precisam fazer dinheiro a qualquer custo. Há casos incríveis que ilustram esse tipo de ladrão. Entre eles o roubo de uma estátua de bronze de Henry Moore que pesava duas toneladas e que foi roubada para ser derretida. Os ladrões queriam seu bronze.
Por fim, o último tipo de ladrão é o mais popular de todos. Com onze exemplos na mostra de cinquenta, refere-se ao sequestrador de obra de arte. Em A arte do descaso explico com detalhes o que os especialistas sugerem que seja feito frente a um pedido de recompensa.
Queria fazer só uma correção em relação a Thomas Crown: A Arte do Crime, citado como um dos exemplos hollywoodianos do esteriótipo de ladrão de arte. É que esté filme é um remake de Crown, o magnífico, filme de 1968 com Steve McQueen e Fay Dunaway, que fez a psiquiatra de Crown no filme de 1999. A grande diferença entre as versões é o final, que no filme de 1999 virou um happy ending para os protagonistas.
Um abraço!
O quadro de Vermeer seria traduzido como “A Violonista”.
Olá, boa noite!
Estou iniciando meu projeto de pesquisa para a faculdade de Relações internacionais. Gostaria de escrever sobre a repatriação de obras de arte no pós II Guerra. No entanto, para um TCC o tema é amplo. Estou lendo seu livro. Você teria livros, artigos, etc para indicar?
Obrigado desde já.