Pedro Gabriel

[DAQUI A POUCO] – parte III

18 / agosto / 2015

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Rugas, o destino desenhado na sua face. Parecem um rio seco à espera de uma pequena lágrima para irrigar essas infiltrações. Chorar é contar a nossa história em silêncio. Os afluentes da sua trajetória se confundem a cada curva. A memória entra em um barquinho e percorre seu rosto por inteiro. E você relembra tudo. E você se emociona com tudo. A corrente só vai para a frente, marinheiro! Não há mais tempo para perder tempo. Como é bonita a vida de quem viveu cada despedida… Cada retorno. Cada ausência. Cada segundo… O caos ficou para trás. Uma hora a bonança também precisa atracar. Seus 50 anos se despendem no cais.

Aos 60, o coração não bate com o mesmo vigor, mas o amor ainda apanha seus frutos. Hoje, amadurecidos. A diferença é que a colheita agora é feita diretamente da árvore. A mesma árvore que você plantou, podou, molhou, sustentou, protegeu.  Os 60 já ficaram para trás. Parabéns, senhor. Há mais vela do que bolo na sua festa de aniversário. Que belo dia para se lembrar da menina mais bonita do mundo. Aquela a quem você dedicava poemas bobos. Aquela que o fez sentir-se poeta. Aquela que o fez hiperbolizar os sentimentos. Tudo bem, tudo bem. Não se envergonhe. É sempre assim. Quem a gente ama é sempre um pouco maior do que o amor em si. E não é que deu certo? Seu filho a chama de mãe. Seu neto a chama de . Você a chama de amor. De amor. De amor. De amor. De amor…

Agora você tem 80. A idade do arrependimento. Do agradecimento. Do engrandecimento (mesmo quando começamos a encolher). Parece que Deus quer nos acolher do mesmo tamanho que nos deixou. Estamos mais frágeis, mais meninos. Somos crianças enverrugadas. Adultos envergonhados. De quê? De repente, você sente falta de estar nos braços da sua mãe, de ser fotografado pelo seu pai, daquele bolo do primeiro aniversário e até daqueles malditos pelinhos no sovaco. Quer voltar no tempo só para dizer ao professor de matemática que você não precisou usar nenhuma fórmula para ser feliz. E aquele sonho de ser poeta ainda repousa no seu peito. Não tenha pressa, menino, um dia ele desperta.

A cadeira de balanço balança sozinha. Saudade é uma palavra que não se despede.

 

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Comentários

6 Respostas para “[DAQUI A POUCO] – parte III

  1. Estou aqui a pensar em que idade me enquadro. Mas não encontrei. Já tive 100 aos 20, já tive 12 aos 40. Será que sou normal? Muito lindo o texto. Tocante. Estou gostando de conhecê-lo além dos bilhetes de bar. Estes, tão deliciosos. Parabéns.

  2. Faz um livro de crônicas por favor,cara ♥ Amo seus textos, tão simples mas que refletem exatamente como é viver

  3. Eu nunca comento,leio desde o primeiro mas nunca comentei,só que acontece que dessa vez eu não consigo parar de chorar com seu texto… Não sei porque mas vi seu avô nele,e vi a vida como ela é,dura e frágil,obrigada por mostrar isso a gente, e agradece a Deus por ter te dado esse dom. De uma grande admiradora,beijos.

  4. Sou uma grande fã sua, mas nessa terceira parte você se superou, estou mt emocionada, bjs

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