Clóvis Bulcão

Os símbolos das férias

27 / julho / 2015

Palácio Laranjeiras (Acervo Victor Burton)

Palácio Laranjeiras (Acervo Victor Burton)

Acabo de me inteirar que fui ludibriado por uma velha artimanha de brasileiro emergente. Relatos de viagem enganam — passar vários dias em Nova York, alugar uma casa no verão da Toscana, viajar pelas estradas secundárias no sul da França e fazer cruzeiros pelas ilhas gregas não necessariamente representam muito. Quem conta que gozou férias em um desses locais vai passar uma imagem, no mínimo, diferenciada.

Todos sabem que alguns relatos de férias são muito mais ricos do que o próprio custo da viagem. Eu mesmo já fiz alguns desses roteiros listados acima e estou bem longe de ser rico. Portanto, eu nunca deveria ter confiado nas descrições que encontrei sobre a presença dos Guinle na principal cidade de veraneio do Brasil Império: Petrópolis.

Minha filha, Roberta, foi passar férias lá. Ela fez um dos passeios mais tradicionais, um tour de charrete pelo Centro Histórico. Ao longo do percurso, o cocheiro foi apontando as casas mais importantes. Ao voltar para o hotel, ela se deu conta de que a casa de veraneio de Eduardo Palassim Guinle, que estava no circuito, não havia sido mencionada.

Apesar de ficar bem próxima do palácio do imperador d. Pedro II, essa casa é muito modesta para os padrões da família Guinle. Confesso que fiquei surpreso e me senti iludido com as diversas reportagens que li sobre eles em Petrópolis

As descrições da chegada dos Guinle na estação de trem da cidade são incríveis. Carruagens luxuosamente ornamentadas, cocheiros impecavelmente paramentados e cavalos de grande porte. Então o leitor logo os imagina nem cenários de muito bom gosto e de uma riqueza incomensurável.

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Casa de Eduardo Palassim Guinle em Petrópolis, região serrana do Rio de Janeiro.

Só que quando Eduardo Palassim Guinle adquiriu esse imóvel ele ainda não era multimilionário. Entretanto, ser vizinho do imperador foi, com certeza, um passo importante para a sua afirmação econômica e, principalmente, social.

Os Guinle souberam compensar a simplicidade da casa com um bem ensaiado jogo cênico. Agiam como se fossem velhos integrantes da elite brasileira. Seus amigos eram membros da nobreza e eles frequentavam os mais badalados endereços da Cidade Imperial.

Seus nomes eram citados regularmente na imprensa, que noticiava os principais eventos da vida social petropolitana. Atuaram tão bem que nem me dei ao trabalho de ir ver a casa deles na Região Serrana. Parecia evidente que a propriedade deveria ser uma mansão espetacular. Errei!

Décadas mais tarde, o playboy Jorginho Guinle cunharia uma frase que explicaria bem esse comportamento familiar: “O mais importante é parecer ser rico!”

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