Família Guinle?

Por Clóvis Bulcão

29 / maio / 2015

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Eu era criança, nos anos 1960, e morava em Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro. Foi andando pelas ruas do bairro que, pedagogicamente, percebi que a família Guinle era uma gente diferente. Além de existirem algumas ruas com esse sobrenome, eu e meus irmãos brincávamos nos jardins de uma linda mansão. Ali, morava alguém dessa família que generosamente abria os portões de sua casa para as crianças do bairro. Pelas dimensões da propriedade era claro que se tratava de gente muito rica.

Uma década mais tarde, nos anos 1970, escutei mais de uma vez meu tio Nuno dizer a seguinte máxima: “São Paulo é uma cidade mais rica, mas as maiores fortunas são cariocas.” Eu perguntava quem eram esses milionários e a resposta era sempre a mesma: os Guinle, da Cia. Docas de Santos. Eu nem entendia direito, pois os milionários cariocas tinham um porto em Santos com sede no Rio.

Foi nos anos 1980, que fui dando conta de quem eles realmente eram. Antes mesmo de entrar para o curso de história, abri minha primeira conta corrente no Banco Boavista, agência Voluntários da Pátria, em Botafogo. Meus pais eram correntistas e em muitas ocasiões falavam o nome dos donos da prestigiosa instituição: de novo, os Guinle. Ou seja, eles também eram banqueiros.

link-externoConheça Os Guinle: A história de uma dinastia

Ainda na mesma década, foi no curso de História da PUC-RJ – na matéria História III, ministrada por Ilmar Rohloff de Matos – que bati de frente com os Guinle. Estudando a reforma Pereira Passos, um período de grande transformação urbanística do Rio de Janeiro, no início do século XX, visualizei o quanto os Guinle tinham sido importantes na vida da cidade e do Brasil.

Entre 1902 e 1906, a capital da jovem República brasileira passou por uma gigantesca transformação. O objetivo era dar ao Brasil uma capital digna do maior país do continente. Além disso, visava estabelecer um contraponto com Buenos Aires, a moderna e europeizada capital da Argentina. Portanto, ao adquirirem seis terrenos na avenida Central, principal intervenção da reforma Pereira Passos, os Guinle  ajudavam a viabilizar um projeto que tinha uma dimensão nacional e continental.

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Foi então nos anos 1980 quando pela primeira vez encontrei um bom motivo para se resgatar a história dessa família. Nessa época, exatamente como os Guinle, o Rio de Janeiro vivia um momento de muita decadência. Algo me dizia que não era uma mera coincidência. Logo, ficou claro que a história deles merecia um livro.

Clóvis Bulcão é historiador formado pela PUC-Rio. Nascido em Botafogo, divide seu tempo entre o magistério e a literatura. Professor do tradicional Instituto Superior de Educação do Rio de Janeiro, é autor de Os Guinle, além de um romance histórico e quatro livros de não ficção, incluindo Padre Antônio Vieira: um esboço biográfico (2008).
Clóvis escreve às segundas.

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Comentários

3 Respostas para “Família Guinle?

  1. Como sempre, Clóvis Bulcão nos oferece informações de forma leve, mas precisas. Esperamos o livro sobre os Guinle!

  2. Se essa prévia já é deliciosa de ler imagine o livro todo. Parabéns Clóvis !

  3. Clóvis . Gostei muito do seu livro.Nasci em Botafogo e morei na rua Eduardo Guinle. Como esta familia foi importante par o Rio de Janeiro . Parabens.

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