No cemitério das minhas certezas, jaz o Coelho da Páscoa.
Talvez ele tenha sido o primeiro defunto que sepultei, naquele longínquo jardim vazio da imaginação dos meus seis anos.
Não lembro direito. Mas não esqueço do cheiro de decepção, chocolate e coroa de flores, por sinal, enjoativo.
Hoje, o cemitério das minhas certezas está superpovoado. Impossível decorar a data de cada epitáfio. Nem os motivos das mortes.
Passeio por lá de vez em quando, levo rosas vermelhas, choro um pouquinho, acendo velas aos montes, e às vezes até acho graça.
Quase sempre esbarro em lápides estranhas: um sonho perdido, um partido político, um rapaz louro, uma noite no Baixo Leblon, uma palavra dita no ouvido.
Outro dia esbarrei numa lápide nova: “grandes amores”. Estranhei muitíssimo. Acreditei em grandes amores a vida inteira. Briguei por eles. Varei noites. Sofri e morri de prazer vez por outra. Vi acontecer com alguém, presenciei, tenho provas.
Finalmente entendi que a certeza que se foi só diz respeito às duas palavras juntas. Tenho certeza que existem grandes. Tenho certeza que existem amores. E até ainda desconfio que grandes amores existam. E, enquanto continuar desconfiando, beberei vodka, ouvirei blues, usarei lavanda, escreverei coisas diversas, acreditarei na humanidade, fecharei os olhos quando beijo, e outras coisas assim, meio bobas.
Maravilhosa!
Adriana Falcão !mulher genial que fala com o coração da gente!