Tenho o maior respeito pelo Natal, posto que ainda o vejo com olhos de criança. O fato é que meu pai sabia criar um clima natalino como poucos, embora eu nunca o tenha visto pendurando nem sequer um enfeite na árvore. Ele se alardeava um grande e íntimo amigo do Papai Noel, e mesmo quando deixei de acreditar no bom velhinho, segui acreditando no meu pai.
Quando a gente vai para o outro lado da quadra e passa de filha à mãe é que entende aquele ar de cansaço, de leve e embriagada exaustão, que nossos pais exibiam na noite de Natal. Era um tal de preparar as comidas, assar o peru, preparar o sarabulho, gelar as bebidas, empacotar os presentes – um tour de force que deixava a minha mãe exasperada até a segunda taça de champanhe. O pai, como um bon vivant que se preze, lá pelas tantas da barafunda de preparar a festança da família – família grande, unida, animada – recolhia-se ao seu quarto, vestia o pijama às três da tarde e “tirava uma torinha”, como ele costumava dizer. Foram bons tempos, guardo deles a melhor das lembranças.
Ando agora ocupada em preparar os meus próprios natais, muito mais singelos que aquelas festas familiares que varavam a noite. Luzinhas, risos, a euforia das crianças – não preciso de muito mais do que isso. E cá estou eu, outra vez, escrevendo sobre o Natal…
Natal tem todo ano, e tem gente que se cansa: quer fugir das festas, pular os dezembros, esconder-se numa ilha deserta. Eu gosto da repetição, da aproximação da data. A gente tem uma vida só, mas tem um monte de natais para corrigir os anteriores. Ou para repeti-los. E o bom é que, nos natais, você ganha presentes sem ficar mais velho — dá para comemorar sem sofrimento. E dá para acreditar, nem que seja por uma noite, que as coisas erradas hão de se endireitar, e que seguiremos juntos, todos nós, dezembro após dezembro, repetindo os nossos carinhosos clichês.
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