Entrevistas

Entrevista com Matthew Quick

30 / agosto / 2013

Aproveitando a visita de Matthew Quick ao Brasil para a XVI Bienal do Livro Rio, fizemos uma entrevista exclusiva com a colaboração dos leitores para o Blog das Séries. Os autores das cinco perguntas selecionadas no Concurso Cultural receberão exemplares autografados de O lado bom da vida e do lançamento  Perdão, Leonard PeacockConfira a entrevista completa:

Gabriela Mendes: Gostaria de saber como você faz, e se é muito difícil, explorar esse lado mais sombrio e raivoso de seus personagens, como o do Leonard, o do Pat e até mesmo o da Tiffany. E se você já viveu emoções como essas para poder descrevê-las com tanta clareza, pois são personagens muito intensos e marcantes.

MQ: Minha esposa sempre me descreve como uma pessoa intensa — e ela diz isso como um elogio. Aqueles que me conhecem bem vão dizer que há um pouco de mim em cada um dos meus personagens. Eu não gosto de conflitos. Eu gosto de estar em harmonia com as pessoas, mas nem sempre isso é bom. Às vezes precisamos de raiva. Quando eu era jovem, costumava ficar com raiva por dentro e aparentar tranquilidade. Usaria até uma máscara se fosse para estar em harmonia com os outros. Isso não era saudável. Quando comecei a escrever, percebi que a ficção precisa de conflito e que a minha raiva interior era necessária para fazer arte. E então comecei a colocar minha raiva em prática e a explorar através da minha escrita muitos assuntos que eu estava desconfortável em explorar na vida real. O processo de escrita — especialmente escrever suas verdades honestamente — nunca é fácil. No meu escritório, experimento todas as emoções dos meus personagens enquanto os crio. Nem sempre é agradável, mas é muitas vezes catártico.

Bruna Bento: Tendo em mente que o Pat Peoples é professor — e possivelmente tem jeito ao lidar com jovens — e que ele já enfrentou maus bocados na vida, estando inclusive internado em uma instituição psiquiátrica, que conselhos ele daria a Leonard Peacock caso eles se encontrassem em um jogo dos Eagles, por exemplo?

Eu não acho que Leonard Peacock estaria disposto a ir a um jogo dos Eagles, mas, se ele fosse forçado, aposto que não daria atenção à partida; talvez olhasse para o belo horizonte da Filadélfia, que é visível de algumas partes do estádio. E talvez Pat Peoples notasse o desconforto de Leonard. Acho que Pat iria falar com Leonard. Talvez o aconselhasse a ver o lado bom da vida. Ele diria: “Você tem Walt e Herr Silverman para ajudá-lo a concluir o ensino médio. E logo o ensino médio vai terminar e, se você se esforçar, vai conhecer novas pessoas maravilhosas. Talvez uma Tiffany comece a segui-lo aonde quer que você vá!” Eu também acho que Pat iria encorajar Leonard a procurar ajuda. Talvez ele o apresentasse ao Dr. Cliff Patel. Aposto que Leonard poderia aprender muito com Cliff.

Valéria Regina: Quais são as expectativas para a Bienal no Rio de Janeiro? O que espera dos brasileiros nesse grande evento?

MQ: Espero conhecer e agradecer aos muitos brasileiros maravilhosos que leem meus livros! Eu sempre quis visitar o Brasil. E o Rio… Eu admirei a cidade de longe por muitos anos. Estou muito feliz de estar no Brasil. Mal posso esperar para conhecer todo mundo.

Julia Alves: Em seu novo livro, Perdão, Leonard Peacock, você trata sobre vários temas, como o bullying e a relação aluno-professor. Como você já foi professor, queria saber se passou por alguma experiência em sala que o tenha influenciado a escrever o livro.

MQ: Leonard Peacock é um personagem fictício, como todos em meus livros. Dito isso, Perdão, Leonard Peacock foi muito inspirado em minhas experiências como professor de ensino médio nos Estados Unidos. Trabalhei em uma escola que era muito competitiva. Muitos dos meus alunos eram extremamente inteligentes e concorriam por vagas nas melhores universidades dos Estados Unidos. Muitas vezes eles se esforçavam tanto para serem perfeitos que sentiam necessidade de esconder seus problemas, o que nem sempre era saudável. Eu era um conselheiro extraoficial para os adolescentes, e os que confiavam em mim estavam sofrendo em silêncio, muitas vezes intensamente. Sempre me incomodou o fato de que nosso sistema educacional muitas vezes causa problemas psicológicos nos adolescentes, mas ninguém queria falar sobre esses problemas. E é por isso que Leonard Peacock também tinha tanta raiva.

Giovanni Rei: Tanto em O lado bom da vida quanto agora em Perdão, Leonard Peacock, você procura nos trazer personagens com grandes conflitos internos. No meio da loucura, eles ganham vida e nos conquistam. Por mais amarga que possam parecer as suas histórias, nós observamos sua batalha e torcemos para que eles encontrem algo inspirador, que os guie de volta para o que a vida realmente pode nos dar. Qual a inspiração para criar personagens tão complexos e inconstantes?

MQ: Em Perdão, Leonard Peacock, Herr Silverman diz: “Ser diferente é bom. Mas ser diferente é difícil.” Eu acho que isso é verdade. Meus alunos preferidos eram frequentemente rotulados pelos outros como estranhos. Mas as pessoas “diferentes” geralmente também são as que veem o mundo de uma forma única. Esses são os nossos artistas, músicos, escritores, pensadores, criativos etc. Acho que nós enraizamos essas pessoas em histórias porque esperamos ser como elas. Esperamos encontrar algo único dentro de nós e trazer isso à fruição. Mas ser diferente é difícil. É sempre o caminho mais difícil. E por isso as pessoas ao nosso redor às vezes nos desencorajam a ir pelo caminho desconhecido. Às vezes, elas querem nos proteger. Às vezes, têm medo de serem deixadas para trás. Às vezes, temem que nós tenhamos sucesso e elas não. E ainda há algo dentro de nós que se identifica com os heróis de histórias, apesar de outros identificá-lo como “louco”. Como Kerouac escreveu: “As únicas pessoas que me interessam são os loucos.” Personagens simples e estáveis geralmente não embarcam em viagens interessantes.

Na XVI Bienal do Livro Rio, Matthew Quick participará, no dia 31 de agosto, do evento Café Literário “Novas definições do leitor: o jovem, o jovem adulto e o adulto”, às 14h (pavilhão azul), e da sessão de autógrafos no estande da Intrínseca, das 15h às 17h (pavilhão azul, F2).

Leia também:
Uma conversa com Matthew Quick, autor de O lado bom da vida
biblioteca de Pat Peoples

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