Bastidores

Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada…

1 / agosto / 2011


Tomamos emprestados os versos de “A casa”, de Vinícius de Moraes, para transmitir a nostalgia da infância que os profissionais da Intrínseca sentem ao lembrarem da mudança da sede da editora para o atual endereço. Há um ano empacotamos todos os nossos pertences na pequena casa da rua dos Oitis e viemos para um escritório que ocupa um andar inteiro em um prédio comercial na rua Marquês de São Vicente — ambas no bairro da Gávea, Zona Sul do Rio, como informa a nota publicada na época pelo PublishNews.

Da casinha para cá, já crescemos. Éramos 18 pessoas espremidas em 130 m2, hoje somos 26 trabalhando em um confortável escritório de 290 m2 — e ainda devemos contratar mais alguns profissionais. Não só o espaço aumentou, como também a demanda da produção: em 2010, publicamos 30 títulos; neste ano serão 50. Além das séries infantojuvenis e cross-overs já conhecidas, os livros de ficção e não ficção adultos são destaque nesse crescimento, com novos e relevantes autores em nosso catálogo, tais como, Alain de Botton, Jennifer Egan, Erik Larson, J.J. Abrams, Shin Kyung-sook, Edmund de Waal, Lars Kepler.

Pedimos aos “intrínsecos” (gracejo que nos enche de orgulho) para relembrar a mudança. E aproveitamos para homenagear o PublishNews, informativo do mercado editorial brasileiro que completou 10 anos no mês de julho.

Mônica Maia, editora de ficção

Colorida, arejada e moderninha por dentro a “casinha” era um ícone dos “intrínsecos”, querida também entre os colaboradores. Na época da mudança eu apreciava ali os resultados de mídia com A linguagem das coisas, ensaios singulares de Deyan Sudjic, o diretor do Museu de Design de Londres, e emocionava-me ao editar A pequena abelha, de Chris Cleave. Os preparativos para receber Lionel Shriver na Flip e a articulação da agenda para a Feira de Frankfurt movimentavam equipes enquanto o sucesso de Um dia no exterior já era monitorado. Aquele espaço, cercado de verde, ficou pequeno para tudo e para todos, mas “casinha” que serviu como pista de decolagem permanece como endereço de muito boas lembranças.

Bruno Correia, assistente de direitos autorais

Confesso: quando finalmente fechamos a porta da casinha da rua dos Oitis pela última vez, o sentimento não foi de alívio, mas de tristeza, como se parte da nossa história estivesse ficando para trás.

Em julho de 2008, quando entrei na Intrínseca, éramos nove ao todo. Eu dividia uma pequena sala com outros dois. Dois anos mais tarde, a equipe tinha mais que dobrado, e eram cinco (às vezes seis) pessoas dividindo o mesmo espaço. Por mais que a essa altura todos já fossem amigos, há um limite. No caso, a lei da física que versa sobre “dois corpos não poderem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo”. Todos contavam os minutos para sair do aperto da rua dos Oitis.

Algumas vezes a casa, como se insatisfeita com a quantidade de gente, parecia se comunicar conosco através de sinais: a falta d’água semanal se traduzia como “vocês precisam cair fora daqui”; a falta de luz, “não quero vocês trabalhando aqui hoje”. E ainda assim, quando nos instalamos de vez no novo escritório, parecia que faltava algo… Combinávamos nós com aquele andar inteiro na Marquês de São Vicente? As primeiras semanas foram de estranhamento, e aos poucos o lugar despido de decoração foi tomando a nossa cara, o nosso espírito. “Tenho que mudar para continuar o mesmo. É isso que me fascina”, disse certa vez o pintor Willem de Kooning. E só agora, olhando para trás, entendo o fascínio a que se referia De Kooning, da redescoberta da identidade que só a mudança pode propiciar.

Danielle Machado, editora de infantojuvenil e cross-over

Eu já tinha mudado de emprego algumas vezes, mas “me mudar” com o emprego, nunca. Deixar para trás a casinha charmosa com varanda e claraboia e entrar em um prédio comercial com porteiros, elevadores e crachá, além de ter dado muito trabalho, foi um grande impacto. Assim como ainda é impactante entrar na sala do editorial e ver, hoje, onze profissionais cercados por estantes abarrotadas de livros e provas de revisão — lá atrás, em 2007, quando fui entrevistada para trabalhar na Intrínseca, o editorial era um cômodo espaçoso, com um armário enorme, mesas que se estendiam por duas longas paredes… e uma única pessoa sentada: a editora Mônica Maia. Naquele tempo, podíamos nos dar ao luxo de reunir toda a empresa ao redor da Aline, que faz o design das nossas peças de marketing, para criar o texto de um busdoor ou discutir longamente sobre o tamanho da logo. Fazíamos acaloradas reuniões de produção no restaurante japonês da esquina e saíamos todos juntos para almoçar e, regularmente, comemorar. Fosse o aniversário de alguém, um livro finalizado ou a lista de mais vendidos, comemorávamos muito. Agora, infelizmente, é mais difícil. Não por falta de motivos, mas de espaço: mesa para quase trinta no Baixo Gávea em pleno horário de almoço é algo praticamente impossível de conseguir.


Comentários

2 Respostas para “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada…

  1. Ow, que liiindo! vocês todos merecem e muito esse sucesso todo, além de livros incríveis, têm uma equipe super simpática e acolhedora. De perto e de longe, uma editora das mais lindas no Brasil! Parabéns, pessoal! Vocês têm a força, poaskpoask 🙂
    Beijo,
    Jups

  2. Gostei muito da história de vocês!
    Sempre gostei de ler literatura infanto-juvenil e livros que tenham como temas ação, aventura, mistério… Tomei paixão pela Intrínseca por ela trazer vários títulos bons que tem esses e outros temas para o Brasil. E por isso também procurei um bom curso de inglês para me aperfeiçoar e tentar entrar nessa editora que eu amo tanto! Eu quero muito fazer parte dessa equipe, começaria com qualquer coisa, mas no futuro gostaria de me tornar tradutor de livros estrangeiros!
    Beijos!

    Atenciosamente,
    Fabiano Santos Oliveira (Um grande fã)

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